Está em desenvolvimento no atual
Governo Bolsonaro a chamada PEC da Reforma Administrativa. Na verdade ela
nasceu no Governo Temer através de vários mentores, entre eles Esteves Pedro
Colnago Junior que é economista e ex-ministro do Planejamento de Michel Temer e
agora é secretário adjunto da Fazenda. A principal justificativa de Bolsonaro é
que há pouco espaço para os investimentos públicos e o teto de gastos dos
ministérios tem ameaçado e comprometido diversos órgãos.
Para citar apenas alguns apontamentos do que a PEC traz na
sua essência podemos elencar a redução na quantidade de carreiras dos
servidores e servidoras públicos (as), o salário inicial reduzido, o fim da estabilidade
dos servidores/as, avaliações de desempenho mais rigorosas, além de limitações
para as promoções.
A implementação da PEC afetaria diretamente as carreiras,
especialmente as menores. A essência da proposta consiste em reduzir o número
de carreiras do Executivo - hoje com 309 - para cerca de 20. Além disso, a PEC
promete aumentar o tempo em que os (as) servidores (as) levam para chegar aos
maiores salários, colocando cerca de 30 níveis de progressão, o que acaba
dificultando e condicionando os trabalhadores (as) para avaliações mais
rigorosas.
A proposta também é bem clara quando se fala em
recomposição da força de trabalho e em nenhum momento cita a realização de
concursos públicos. Algumas soluções dadas pelo Governo são: realocação do
excedente com funções/competências similares entre outros órgãos com déficit de
pessoal, permitindo maior mobilidade e aproveitamento da força de trabalho pela
Administração Pública Federal, incorporação de tecnologias e metodologias
inovadoras de trabalho para minimizar a necessidade da mão de obra, entre
outros absurdos.
SERVIDOR PÚBLICO COMO VILÃO
O atual Governo tem se esforçado para fazer a população do
país acreditar que os (as) servidores (as) públicos são privilegiados (as) e
culpados (as) pela desventura econômica em que vive o Brasil. As informações
têm sido ventiladas de forma tendenciosa, trazendo dados fora de contexto e, na
maioria das vezes, mentirosos.
Vale ressaltar que os servidores
(as) não são eleitos e nem indicados por ninguém. Pelo contrário, são admitidos
(as) através de concursos públicos altamente exigentes e concorridos. O nível
de exigência para o ingresso de professores e professoras é compatível com a
responsabilidade requerida para o cumprimento da sua missão em sala de aula e
fora dela.
Outro ponto que pouca gente sabe é
que os servidores (as) contribuem para a aposentadoria com percentuais
incidentes sobre todo o salário, e não possuem o Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço - FGTS, ao contrário dos (as) demais trabalhadores (as), e continuam
contribuindo com a Previdência mesmo após se aposentarem. Estes fatos são
sempre omitidos nas campanhas governamentais.
ESTABILIDADE
A PEC da Reforma Administrativa também traz na sua
proposta a revisão da estabilidade no serviço público. Nos moldes de hoje, a
Constituição Federal prevê que o servidor público tem direito à estabilidade
após cumprir três anos de estágio probatório, período em que é avaliado e pode
ser demitido por mau desempenho. Essa regra será modificada com a Reforma, onde
serão propostos novos mecanismos de avaliação para os (as) funcionários do
serviço público e as regras para a aquisição da estabilidade vão ser
diferentes, conforme a carreira de cada um e de cada uma.
Atualmente, há dois tipos de servidor: os com estabilidade
(oriundos de concurso público) e os comissionados. Com a Reforma
Administrativa, o governo pretende ampliar para cinco tipos. Os comissionados
continuariam com as mesmas características e os demais seguiram algumas regras
e só poderiam ser efetivados após avaliação de desempenho. Outro ponto para
destacar é que a PEC prevê o fim da estabilidade para servidores filiados a
partidos políticos, um verdadeiro absurdo contra a democracia.
CONCURSOS
Em março de 2019, o Governo já havia
dado sinais que apertaria as regras para os órgãos do Executivo pedirem ao
Ministério da Economia a abertura de novos concurso públicos por meio do
Decreto nº 9.730/2019. Em resumo, o decreto prevê que os órgãos que desejarem
realizar concursos terão que cumprir exigências que, na prática, dificultariam
ou inviabilizariam o pedido.
Além disso, o Ministro da Educação,
Abraham Weintraub disse em uma entrevista em que contratar servidores sem
concurso público seria uma iniciativa de “separar o joio do trigo” nas
universidades brasileiras.
Mais recentemente, o Ofício 01/2020
publicado pela Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação
(Sesu/MEC) reafirma uma realidade pouco nova para as Instituições Federais de
Ensino: estão suspensas as contratações de docentes e técnicos nas IFE em 2020.
Com isso, as instituições não podem realizar provimentos, sejam efetivos ou
substitutos. As contratações nas IFE só serão autorizadas após a publicação da
Lei Orçamentária Anual - divulgada no último dia 20 de janeiro - e a definição,
pela Sesu/MEC, do quantitativo para reposição de vagas e, também, para a
ampliação do banco de professor-equivalente e do quadro de técnicos. Tal
autorização está condicionada ao recurso disponível, definido pelo MEC.
SINDICATOS
Os ataques vêm sendo realizados em conta-gotas muito antes
da proposta da Reforma Administrativa contra as atividades sindicais. A prova
disso é a Instrução Normativa nº 2, de setembro de 2018 que além de tratar de
assuntos como o controle de frequência, atreveu-se a estabelecer restrição à
participação de servidores em atividades sindicais. O artigo 36 diz: “Poderá haver liberação do
servidor público para participar de atividades sindicais, desde que haja
compensação das horas não trabalhadas”.
Outro ponto que incomoda é a regulamentação do direito de
greve. O Governo quer regulamentar o direito de greve do servidor e da
servidora. Os sindicatos reivindicam também essa regulamentação há algum tempo,
mas o preferido pelo Planalto é o PL 4497/2001. Este PL prevê punições quando
os servidores grevistas se recusarem a garantir a prestação de serviços
considerados essenciais ou vierem a manter a greve mesmo após a decisão
judicial ou acordo. As punições podem variar de suspensão de até 90 dias,
multas e, em caso de reincidência, demissão.
Já a medida provisória 873, do primeiro trimestre de 2019,
prejudicou e muito a autonomia sindical garantida pela constituição federal.
Diversas seções sindicais ligadas ao ANDES-SN tiveram prejuízos pela
“proibição” do desconto em folha da mensalidade sindical. A APROFURG foi um
desses sindicatos que teve perdas no seu caixa.
AO APAGAR DAS LUZES
No último dia de dezembro de 2019,
uma portaria publicada no Diário Oficial da União, o Ministério da Educação
(MEC) alterou as regras de registro de todas as modalidades de afastamento no
país e para o exterior. Conforme a nova norma,
mesmo afastamentos sem ônus ou com ônus limitado precisam ser feitos via
Sistema de Concessão de Diárias e Passagens (SCDP). Antes, apenas afastamentos
com ônus eram registrados no SCPD.
O Ministério determina, também, que a “participação de
servidores em feiras, fóruns, seminários, congressos, simpósios, grupos de
trabalho e outros eventos será de, no máximo, dois representantes para eventos
no país e um representante para eventos no exterior, por unidade, órgão
singular ou entidade vinculada”. Somente em caráter excepcional e “quando
houver necessidade devidamente justificada, por meio de exposição de motivos
dos dirigentes das unidades”, o número de participantes poderá ser ampliado,
“mediante autorização prévia e expressa do Secretário-Executivo”.
Essa orientação pode trazer limitações para a participação
de pesquisadores de uma mesma unidade em eventos acadêmicos que, muitas vezes,
congregam boa parte da comunidade acadêmica de uma área do conhecimento. Assim,
a Portaria 2.227 de 2019 cria barreiras para a divulgação dos saberes
acadêmicos e para a circulação de ideias , elementos indispensáveis à atividade
acadêmica.
APROFURG
Para a vice-presidente da APROFURG - Seção Sindical do
ANDES-SN, Marcia Umpierre a tentativa de desmonte ao serviço público federal é
clara. “A reforma administrativa, proposta por este governo, através da equipe
do Paulo Guedes, prevê uma mudança na concepção do Estado, na concepção de
prestação de serviços, e desta forma ela afeta diretamente a nós servidores
públicos, à nossa carreira, aos futuros servidores”, explicou Marcia.
Ainda segundo a integrante da diretoria da seção sindical, a unidade torna-se mais
importante neste ano que inicia. “Então nessa lógica de mudança de carreira,
planos de carreira, perda de estabilidade, desconfiança do papel de servidor
público, nós temos que estar mais do que nunca juntos, e quando falo nós,
servidores, não só os da educação, mas sim servidores como um todo, da linha do
executivo federal. Este é o momento que a gente vai lutar e se
fortalecer, na união das categorias, na união da força dos servidores públicos,
que é quem faz realmente que as coisas aconteçam nesse país e quem executa
todas as ações do Estado brasileiro”, completou.
Andes UFRGS – Seção Sindical do Andes-SN na UFRGS
O 2º vice-presidente do ANDES/UFRGS, Tiago Martinelli
salientou o impacto de uma possível aprovação da Reforma Administrativa. “As notícias
e informes em cafés da manhã (por não ter saído a proposta oficial) que
circulam tocam na vida de milhões de servidores públicos. Implicam diretamente
nos salários, enquanto principal fonte de sustento, e na vida funcional. Neste
sentido, as Reformas deveriam prever sobre as condições de trabalho (estrutura
física, recurso financeiro, material de consumo e permanente), possibilitando
assim o desenvolvimento das atividades nos diferentes espaços que atendem ao
público e fazem acontecer o trabalho na administração pública. Isso sim
impactaria na qualidade dos serviços”, exemplificou Martinelli.
Para o professor da UFRGS o processo de desmonte da
carreira já iniciou. “ Os/as servidores da Universidade Pública já vem passando
por processos de desmonte das carreiras, extinção de quadros e redução de
servidores (técnico-administrativos e docentes), fim da estabilidade e redução
ou não reajuste de salários. A aprovação da Reforma Administrativa, nos moldes
que estão sendo propostos, acabaria com qualquer possibilidade de manter a
excelência e a continuidade nos processos formativos de milhares de estudantes
e profissionais que busca anualmente aprimoramento junto a academia, seja no
ensino, na pesquisa ou na extensão universitária”.
SEDUFSM
A SEDUSFM reitera a que a Reforma já vem sendo executada. “A reforma administrativa, apesar de
não ter sido ainda enviada em forma de projeto para o Congresso Nacional, já
vem sendo implementada gradualmente. Não é uma reforma no sentido positivo que
o governo e sua equipe de política neoliberal tentam passar à opinião pública.
É um projeto que faz avançar ainda mais o desmonte do setor público no país e
da carreira dos servidores públicos. No caso de nós, professores, significa a
precarização e o empobrecimento, pois encontra-se no bojo de toda essa proposta
mais ampla, medidas como o congelamento salarial, o fim das promoções, que
ainda estarão associadas aos constantes cortes de recursos e bolsas. O futuro é
incerto, mas o cenário atual não indicada nada de bom”, explicou o presidente
da Sedufsm, Júlio Quevedo.
SESUNIPAMPA
As universidade multicampi, entre
elas a UNIPAMPA, sofreriam um terrível impacto no seu funcionamento. ” No conjunto das universidades públicas e de forma especial
aqui na UNIPAMPA o impacto será terrivelmente grande, por sermos uma
universidade relativamente nova (13 anos) e multicampi (são 10 centros
universitários divididos em 10 cidades com uma distância média entre os seus
dois polos de 1200 km e com uma distância de 580 km da capital gaúcha e de 350
a 400 km dos grandes centros urbanos)”, comenta o presidente da Sesunipampa,
Cesar Beras.
Beras ainda
explicou e compactuou com a ideia das outras seções sindicais que os ataques do
Governo são constantes. “Os ataques à educação pública, gratuita, laica e de
qualidade não cessam por parte do governo federal e são cada vez mais cruéis,
perversos e articulados entre si : a PEC 186 ( complementar a PEC 095 – retira
recursos dos gastos sociais e estratégicos e leva a contenção de despesas
obrigatórias); a PEC 187 (que acaba com fundos públicos existentes e transfere
recursos para o pagamento da dívida pública) e a PEC 188 (que institui a
flexibilização orçamentária à custa de redução de direitos e municípios). Esses
conjunto de propostas, simultaneamente, vão destruir a carreira e a existência
do servidor público e fortalecer a transferência de recursos públicos para os
setores privados”.
ADUFPEL
Segundo a ADUFPEL, vale sempre lembrar que a educação não
é mercadoria, e sim um direito conquistado com muita luta. “Isso é um processo que a gente tá
vivenciando desde o final dos anos 90, a partir do governo Fernando Henrique
Cardoso, quando o neoliberalismo começa a ser implantado no Brasil, e essa
implantação busca satisfazer e levar o estado a uma financeirização, a parte de
lá os bancos estão lucrando a partir de crise mais ou menos, e é claro que
nessa lógica o estado deve ser um estado mínimo para as questões sociais”,
relatou o segundo vice-presidente da ADUFPel, Francisco Vitória.
Para Vitória, a história da
resistência e da luta do movimento sindical são os caminhos que devem ser
seguidos para barrar a Reforma Administrativa. “ Então a gente vem resistindo a
esse processo, mas nós enquanto Seção Sindical e como Sindicato Nacional viemos
resistindo desde então, desde o final dos anos 90, que a gente vem apontando
pra essa precarização, seja das relações de trabalho, seja da própria oferta de
serviço público que os impostos tem que nos garantir. Não tenho a menor dúvida,
que dentro desse processo, a própria resistência que praticamos, ela conseguiu
segurar algumas coisas, digamos que ela conseguiu segurar no atacado, mas nós
estamos correndo muito no varejo”, disse.
SINDOIF
O quadro de servidores técnico
administrativos em educação (TAE) no IFRS poderá reduzir em quase 25% somados
os efeitos da Lei nº 9.632/1998, o Decreto nº 9.262/2018 e o recente Decreto nº
10.185/2019. O IFRS possui, hoje, 967 servidores no quadro de
técnico-administrativos em educação. Tal quantitativo já é insuficiente para
atender as 18 unidades que compõem a instituição, sendo notório a falta de
servidores TAE em muitos setores, em especial nos campi em implantação. No que
se refere aos cargos em extinção, previstos na Lei nº 9.632/1998, o IFRS
possui, hoje, 44 servidores nesta situação, que não terão reposição de código
de vaga quando ocorrer vacância dos atuais servidores. Portanto, a médio prazo,
o IFRS terá uma redução de 4,55% das vagas de TAE apenas pelo efeito da Lei
9632/98.
Em relação ao Decreto nº 9.262/2018
que vedou a abertura de concurso público e impediu o provimento de vagas
adicionais em quantitativo superior ao estabelecido em edital, o efeito no IFRS
é o seguinte são 105 servidores que tampouco têm garantido a reposição dos
códigos de vaga quando de suas respectivas vacâncias. Esse quantitativo
significa 10,85% do quadro total de servidores técnico-administrativos do IFRS.
Por fim, o Decreto nº 10.185/2019, editado por Jair Bolsonaro no DOU de 20 de
dezembro, impacta em 68 servidores do IFRS. Um impacto de 7% no efetivo total
de servidores técnico-administrativos em educação do IFRS. Em resumo, nos
próximos anos o IFRS poderá perder até 217 das atuais 967 vagas de servidores TAE,
ou seja, cerca de 22,4% do efetivo.
ESTADO DE GREVE
Por estas e outras
questões que o ANDES-SN indicou aos docentes a aprovação do Estado de Greve
para 2020. As Seções Sindicais começam o
ano atentas e em luta pelo devido repasse orçamentário à educação e contra todo
e qualquer projeto que busque privatizar as instituições públicas. O trabalho é
longo, mas o conjunto de desafios que temos pela frente vai nos fortalecer para
a sobrevivência da universidade pública, gratuita, de qualidade, laica e socialmente
referenciada.
Essa matéria foi elaborada pela
APROFURG, com a colaboração da SEDUFSM, da SESUNIPAMPA, do SINDOIF e da Seção
Sindical do ANDES-SN na UFRGS. As charges são do Rafael Balbueno e do Bruno Galvão.
Esse texto é parte do trabalho
coletivo realizado semanalmente pelas Seções Sindicais do ANDES-SN no Rio
Grande do Sul para divulgar as razões que levaram os docentes a aprovar o
Estado de Greve para o ano de 2020.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Dúvidas, críticas e opiniões - comente!