A Sesunipampa conversou com a comunidade
acadêmica sobre o retorno às aulas em meio à pandemia. Proposta por Jair
Bolsonaro e Abraham Weintraub coloca em risco a vida de docentes, discentes e
TAE’s.
A Universidade Federal do Pampa (Unipampa) suspendeu suas aulas por
tempo indeterminado, tendo em vista as variações e instabilidade advindas da
pandemia da COVID-19 e também pelo risco a saúde da comunidade acadêmica. A
UNIPAMPA pretende seguir as normativas (decretos) do governo estadual, como
estas foram revalidadas até o dia 16/05, essa é a data referência (a reitoria
já prorrogou a normativa interna sobre isso). Se for confirmada, o calendário
seria provavelmente retomada em torno de 01 de junho (segunda-feira).
Atualmente, desde o dia 16 de março as atividades presenciais foram canceladas,
com exceção das essenciais.
O governo federal além de se mostrar negligente com a população
brasileira com ações irresponsáveis envolvendo o Ministério da Saúde e das
declarações de Jair Bolsonaro fazendo pouco caso do novo coronavírus, segue
também atacando as universidades federais. Através do MEC (Ministério da
Educação), tem sugerido às universidades a adesão ao modo EAD durante a
pandemia, e agora, exige que as universidades retornem ás aulas.
VOLTA ÁS AULAS E O RISCO A COMUNIDADE ACADÊMICA
Tendo registrado até o dia de hoje (27) mais de
4.000 mortes em todo país pela COVID-19, o Brasil se encontra em um cenário
grave. Mesmo com o sistema de saúde já entrando em colapso em alguns estados,
os números com avanços alarmantes e pouca perspectiva de enfrentamento a
pandemia, o governo de Bolsonaro ainda sugere que as universidades retornem às
aulas presenciais.
Sendo considerada um dos espaços
mais propícios à contaminação, tendo em vista que as salas de aulas possuem
geralmente como característica um grande número de alunos em um espaço compacto
e de pouca ventilação. A política genocida de Bolsonaro vai além do descaso e
da negligência com a saúde, contra o isolamento social, utiliza de estratégias
para que a população retorne ao cotidiano enquanto reforça seu discurso de a
pandemia não causa tanto impacto como propaga a grande mídia. Inclinado a defender os interesses dos
banqueiros e empresários, participa de manifestações que pedem o fim do
isolamento e o retorno da abertura total do comércio e fronteiras.
A UNIPAMPA E O POSSÍVEL CENÁRIO DE VOLTA ÁS
AULAS
A comunidade acadêmica da Unipampa
conversou com a Sesunipampa sobre o pensamento de volta às aulas, como proceder
e quais alternativas estão sendo encontradas durante a quarentena.
A
discente do curso de História da Unipampa de Jaguarão, Andriele Silveira,
relatou que felizmente conseguiu ir para a casa dos pais e nesse sentido se
encontra em situação confortável, mas segue atenta e combativa nas questões
estudantis, tendo em vista que para muitos outros estudantes a situação não
está nada fácil:
“Infelizmente a
situação é caótica, os estudantes que ficaram nas cidades dos campus da
Unipampa tem enfrentado o descaso da reitoria à um direito básico que é a
alimentação e consequentemente, saúde física e mental. No dia 18 de março, a
reitoria da Universidade Federal do Pampa encerrou as atividades tidas como
“não essenciais” por conta da pandemia do coronavírus, porém não colocou a
alimentação como uma questão essencial, encerrou as atividades do Restaurante
Universitário sem dar nenhuma alternativa de alimentação para diversos
estudantes que dependem unicamente do RU pra fazer suas refeições. O que foi
disponibilizado até o momento foi uma bolsa de R$80,00 por mês para comer na
semana, somado aos R$80,00 que já recebíamos pelo final de semana que o RU não
abre, o que dá um valor de R$5,33 por dia para fazer as refeições. Diversas
Universidades tem tomado medidas alternativas, como disponibilização de
marmitas, cestas básicas e kits de alimentação, o que infelizmente passa longe
da realidade que vivemos na Unipampa. Além das dificuldades de estar longe da
família, sem apoio psicológico, os estudantes ainda se deparam com a angústia
de muitas vezes não ter o que comer. Recebi relatos de estudantes da Moradia Estudantil
João de Barro do campus Santana do Livramento, que sofrem com a falta de
orientações de medidas de prevenção, produtos de higiene e material de proteção”
“Não é hora de
deixarmos que o medo nos paralise. Sei que é difícil pra todo mundo, a situação
é angustiante, mas devemos pensar principalmente nos mais atingidos: os de
baixo, as periferias. Apesar da internet ser um espaço muitas vezes de
propagação de fake news, também disponibiliza ferramentas importantes. Temos
que nos utilizar dela tanto pra continuarmos organizados em nossos locais de
atuação, somando mais gente na luta, quanto pra dar visibilidade para campanhas
de solidariedade que estão rolando. Se não estão, é preciso criar essas ações!
Não podemos esperar ações de um governo que não quer dialogar, enquanto a fome
bate na porta. Em Jaguarão, onde eu estudo, o que tem salvado os estudantes é
uma campanha de arrecadação de alimentos e higiene, muitas pessoas da
comunidade tem se sensibilizado e ajudado, além de nos dar a possibilidade de
aproximação com a comunidade que por vezes parece distante. É um momento em que
temos tido a oportunidade de aproximar a universidade do povo, com pesquisas
sendo voltadas pro combate ao coronavírus, fabricação de testes, fabricação de
álcool gel e materiais de proteção”
A discussão também
foi feita pelos docentes da Unipampa. Para o professor Evandro Guindani, do
campus São Borja, é preciso romper com a ideia de trabalho operário como
trabalho dominante, tendo em vista que devemos considerar o trabalho
intelectual. No meio docente, o computador e a internet pode ser um fator que
transforme o lar, em local de trabalho 24 horas por dia.
“Penso que há em nossa sociedade uma concepção sobre o
trabalho ainda ligada ao século XIX, onde o operário precisava ir à fábrica
para trabalhar. Sua máquina estava lá então não poderia trabalhar em casa. Essa
realidade perpassa o imaginário social atual. Ficar em casa significa não trabalhar,
dentro desse imaginário. Então precisamos romper com essa visão atrasada e
saber que estar no local de trabalho nem sempre significa estar produzindo,
trabalhando ou desenvolvendo alguma atividade. É muito comum você se deparar
com pessoas que sentem a necessidade de estar no local, na empresa, na
instituição, para que outros vejam que ela está "trabalhando". Por
outro lado alguém que pode estar em casa pode estar produzindo, trabalhando
muito mais. No nosso caso, o computador com acesso à internet é nossa grande
ferramenta de trabalho. E temos acesso a ele 24h por dia, o que significa que
estamos disponíveis para o trabalho todo esse tempo. Diante disso, neste
período de isolamento social procuro desenvolver todas as atividades possíveis
tais como preparação de aulas, coleta e análise de dados de pesquisa, troca de
e-mail com alunos, produção de pareceres de artigos para revistas, leitura e
aprofundamento de material bibliográfico para as aulas, produção de artigos
juntamente com os alunos, participação em reuniões, palestras e eventos
virtuais, seleção de novos filmes e documentários para as aulas. Percebo,
portanto, que estou desenvolvendo muitas atividades e preciso tomar cuidado
para preservar tempo para demais atividades que compõe nossa vida. Estamos num
momento crítico e único na nossa história e isso gera ansiedade também, então
estamos nos adaptando a uma nova realidade. Não estamos em casa numa condição
normal.”
Como forma de enfrentamento a pandemia, o professor afirma que o
posicionamento é importe:
“Penso que devemos ter claro que nosso papel de docente é
se posicionar a favor da ética, de uma sociedade justa e democrática. Deve ser
contrário aos ataques à democracia, à concentração de renda e a retirada de
direitos dos trabalhadores.”
No que se refere a volta às aulas, a Sesunipampa defende que o
calendário siga às orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde) e siga
respeitando o isolamento social. Para o técnico administrativo Eduardo Chagas, Coordenador
geral do SindiPampa, pensar a volta as aulas deve ficar para o segundo semestre
do ano, e mesmo assim, ainda seria difícil prever uma data com exatidão.
“O “governo” não tem pressionado apenas pela volta às
aulas, mas sim, pressionado para que todos e todas voltemos à normalidade, como
se uma pandemia que, em maior ou menos escala, atingiu praticamente todos os
países do mundo, houvesse sido um mal entendido, uma chuva de verão, ou, nas
palavras do presidente, “uma gripezinha”. Mais de 3000 brasileiros e
brasileiras já perderam a vida, há mais de 40.000 casos e uma evidente
subnotificação da doença, o que nos faz pensar que o cenário é pior do que o
esse apontado pelos números, e ele já é assustador. Acreditamos que, neste
momento, a principal demanda é exigir que o governo atenda aos milhares de
trabalhadores e trabalhadoras do país que estão sem renda. O isolamento social
passou a ser implementado em março, nós estamos próximos de maio e o governo
sequer liberou na integralidade a primeira parcelo de um auxílio que só chegou
a 600 reais por pressão do Congresso e da sociedade, pois a ideia do governo
Bolsonaro era pagar 200,00, sim, 200 reais. Acreditamos que talvez seja
possível retomar as atividades no segundo semestre, mas mesmo isso é difícil
prever, já que o isolamento social, que evitou uma tragédia maior até aqui, tem
sido abandonado por vários governos estaduais e municipais, que estão
pressionados pela inércia do governo federal em atender aos trabalhadores,
formais ou informais, ou mesmo disponibilizar, de fato, linhas de crédito às
micro e pequenas empresas. Para esses segmentos o dinheiro vem à conta-gotas e
com manifesta má vontade, mas para o sistema financeiro, no dia 23 de março, o
Banco Central liberou 1,2 trilhões de reais. É um verdadeiro absurdo”
Além
das observações quanto as politicas do governo de enfrentamento a pandemia, o
coordenador do SindiPampa também atentou para as diversas campanhas solidárias
que estão auxiliando de alguma forma as demandas mais emergentes da população.
“Há várias iniciativas solidárias acontecendo em todas as
cidades e é extremamente importante contribuir no que for possível. Se a
pandemia voltou a tornar visível o abismo social do país, onde a mídia tenta
esconder a informalidade sob o discurso do “empreendedorismo”, ela também
mostrou a força da sociedade civil organizada. Até mesmo porque o governo
federal faz chantagem com a fome das pessoas, ao demorar em liberar o auxílio e
com isso tenta empurrar as pessoas de volta às ruas, ao trabalho e ao risco de
contaminação. Neste momento, o principal é ficar em casa. Cuidar de si é, sim,
cuidar dos outros. Filtrar as informações, consultar mais de um site ou
telejornal para se informar, fugir das informações que chegam pelos grupos de
whatsapp, desligar um pouco da tv e, principalmente, entender que é, sim,
responsabilidade do governo federal atender aos trabalhadores e trabalhadoras
neste momento. Não é o isolamento que vai causar desemprego, é a doença, a
possibilidade de milhares perderem a vida. O governo precisa atender as
pessoas, cuidar das pessoas, liberar recursos para que as empresas possam pagar
sua folha salarial e complementar o salário de quem perdeu parte do salário. O
Brasil é uma das maiores economias do mundo, nós não estamos falando de um país
que não tenha recursos, mas, sim, não tem vontade em ajudar quem mais precisa.”
SOLIDARIEDADE COMO FERRAMENTA DE LUTA
Se Bolsonaro faz
pouco caso da vida humana e põem em vigor sua política genocida, precisamos de
alternativas para enfrentar a pandemia. Com toda a problemática do auxílio
emergencial que não contemplou toda a população necessitada e mesmo às
beneficiadas encontram diversos empecilhos causados por falhas sistemáticas, e
também pensando em demandas emergente como apresentada anteriormente por
discentes, a Sesunipampa estará lançando nesta terça-feira 28 de abril, uma
campanha de arrecadação de valores que serão revertidos em materiais de higiene
pessoal e limpeza, como álcool gel, álcool, água sanitária e sabão. Anteriormente foram feitas doações em
dinheiro para alguns campus da Unipampa, visando mediar a alimentação de alguns
discentes.
Porém,
ainda é preciso muito mais. Ajude você também, e vamos juntos, com
solidariedade, enfrentar as demandas da pandemia da COVID-19.
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