A
SESUNIPAMPA conversou com o presidente da APROFURG, Cristiano Engelke, sobre os
ataques que sofre a classe trabalhadora dos servidores públicos em meio á
pandemia da COVID-19.
Em meio a pandemia do
coronavírus, o governo mais uma vez determina que a classe trabalhadora pagará
a conta da crise que se encontra o Estado brasileiro. Crise essa, protagonizada
não só pela COVID-19, mas também pelas sucessões de erros e ações de
responsabilidade dos governos municipais, estaduais e federais. Isto é, a
conciliação de classes e posteriormente a grande ascensão da direita ao poder,
que vem massacrando os trabalhadores e trabalhadoras através das reformas e
projetos com características anti-povo.
Discussões como a PLP
39/2020 que através dos artigos 7º e 8º determinam o congelamento do salário
dos servidores públicos com a finalidade de destinar verbas ao combate à
pandemia do COVID-19 são ataques diretos aos servidores e ao serviço público.
Não por acaso, o sucateamento dos serviços públicos e de sua mão de obra vem de
encontro ao entreguismo característico de um governo que visa o Estado mínimo e
privatizações dos bens públicos.
Ignorando outras
alternativas onde a classe trabalhadora é tida como prioridade, e que transfere
a responsabilidade da crise para banqueiros, grandes empresários e demais
acumuladores de capital, os quais em sua grande maioria possuem contas em
aberto com o governo brasileiro através no não pagamento de impostos, por
exemplo. Medidas como a taxação das grandes fortunas, cobrança de impostos atrasados
ou a suspensão da dívida pública, não são pautadas pelo governo atual, tendo em
vista que é, e está, a serviço do capital e da burguesia, e tem como
compromisso a implantação de uma agenda neoliberal.
Os ataques aos serviços/servidores
públicos federais atingem professores, técnicos, e consequentemente toda
comunidade acadêmica. Com a precarização desses serviços, projetos como o
Future-se, se tornam mais próximos de uma realidade e podem erroneamente
parecer uma saída promissora para os que não valorizam os espaços educacionais.
Com outras polêmicas como o corte orçamentário em 2019, o próprio Future-se e
a recente decisão sobre o mantimento da data das provas do ENEM 2020 (derrubada pelo senado), é
notória a negligência com o ensino, a pesquisa e a tecnologia.
É preciso parar a politica
genocida e anti-povo de Bolsonaro!
Analisar e concluir que o
governo de Jair Bolsonaro proporciona ataques aos trabalhadores e trabalhadoras
requer como resposta organização e enfrentamento. Mesmo que o cenário não
pareça promissor, exigir das centrais sindicais, sindicatos, seções sindicais,
movimentos sociais e partidos políticos agitação das consignas, a mobilização
da classe trabalhadora (mesmo que atualmente de maneira virtual, devido a
pandemia) e a denúncia de todos que se posicionarem contra a classe
trabalhadora é fundamental para que que os ataques não avancem.
Durante esta semana os
estudantes conseguiram através de muita agitação da consigna #AdiaENEM que o
senado se posicionasse de maneira favorável ao adiamento, com exceção de Flávio
Bolsonaro, que votou contra. Mesmo com a aliança com o chamado “centrão”,
podemos observar uma relação frágil por parte dos aliados do governo Bolsonaro.
A opinião e pressão públicas ainda surtem algum efeito no parlamento, e isso
deve ser usado de maneira massiva e estratégica, agitando virtualmente as
demandas da classe trabalhadora e estudantil.
Discutir, construir e mobilizar.
Conservamos com o Cristiano
Engelke, presidente da Seção Sindical do Andes-SN na APROFURG.
SESUNIPAMPA: Em
ralação ao projeto emergencial expresso na lei 039/20 concordas que ele repassa
a conta do combate à pandemia para a classe trabalhadora? por quê?
Cristiano: Sem dúvida. A conta do combate da
pandemia e da crise econômica – que já era anterior – estão sendo jogados no
colo de trabalhadores e trabalhadoras, como é prática recorrente das políticas
neoliberais. A saída é sempre pensada a partir do arrocho fiscal nas classes
mais baixas, prejudicando aqueles e aquelas que trabalham e estudam, no caso
específico do PLP 039/20, aqueles e aquelas que servem à sociedade justamente
quando ela mais precisa.
As
categorias mais afetadas serão justamente as que recebem os menores salários e
terão ainda mais dificuldades.
Um governo e um parlamento
que atuam na defesa dos interesses do capital financeiro, dos grandes bancos,
grandes empresas, grandes proprietários de terra e grandes pastores evangélicos
só podem significar a perda de direitos em benefício de quem sempre se
beneficiou da classe trabalhadora.
Celso Furtado utilizava uma
frase sobre o Brasil que representa bem esse momento, de que o nosso país se
caracteriza por uma privatização dos lucros e socialização dos prejuízos. É
isto que temos mais uma vez.
SESUNIPAMPA: Em
tempos de pandemia quais as ações para enfrentar medidas como essas que
precarizam o trabalho docente?
Cristiano: É preciso termos claro que uma pandemia
precariza todo e qualquer trabalho, uma vez que faz com que a saúde da
população está em risco e isso já afeta as rotinas e a saúde mental de docentes
e estudantes. O que precariza ainda mais o trabalho docente em todos os níveis
de ensino é a substituição da aula presencial em sala de aula de forma
automática pelo ensino remoto. O professor e a professora que não estão
preparados para o uso de ferramentas digitais, com metodologias de
ensino-aprendizagem que não são voltadas a este formato se vêem confrontados
com essa forma de trabalho, aumentando e muito o trabalho, a preocupação e o
desgaste e diminuindo a qualidade do ensino e da aprendizagem.
Se
isso já não bastasse, esse arremedo de aula não é acessado da mesma forma pelos
estudantes, ampliando as desigualdades sociais e as dificuldades já enfrentadas
tanto por estudantes quanto pela sua família.
SESUNIPAMPA:
Que alternativas o governo poderia utilizar para além de repassar para os
trabalhadores os custos de combate a pandemia?
Cristiano: O Estado brasileiro deveria repassar estes
custos da pandemia a quem tem condições pagar e não o faz. A taxação de grandes
fortunas e a divisão de dividendos seriam algumas alternativas. A realização de
uma auditoria da dívida pública também seria importante, mas não resolveria no
curto prazo. De maneira geral é urgente perceber a sociedade e a economia com
uma visão que não seja apenas o do equilíbrio fiscal através do sacrifício da
população, mas que se parta de uma visão mais humana e social, buscando sempre
a justiça social. Enquanto o lucro e o individualismo seguirem balizando a
nossa economia e nossas mentes seguiremos na situação de grande desigualdade e
injustiça.
Não
tenho muita esperança, mas que este momento no sirva para repensar e
transformar a sociedade em que vivemos. Que saiamos dessa situação melhores que
entramos. Será possível?
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