A SESUNIPAMPA conversou com
a Caroline Lima, 1ª secretária do ANDES-SN e professora do curso de História da
UNEB sobre as definições do trabalho remoto docente.
O trabalho remoto docente vem sendo discutido
pelo ANDES-SN e demais seções sindicais, apontando a realidade das condições da
classe trabalhadora docente diante do desgaste que o mesmo pode apresentar.
A
Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) não aderiu a modalidade EAD, sugerida
pelo Ministério da Educação (MEC), mas ainda se encontra sob os ataques que o
governo federal coloca enquanto ensino a distância e a cobrança por
produtividade em tempos pandêmicos.
Sendo
uma forma de manter os trabalhadores produtivos durante a pandemia, o trabalho
remoto deve ser pensando enquanto uma alternativa, mas principalmente ser
discutido com as classes que aderiram a mesma. No contexto dos professores e
professoras, o trabalho remoto se dá através o EAD, repudia pelo Andes-SN
através da circular 88/2020 no dia 18 de março, onde disse que: “Ao defender aulas on-line, o governo
desconsidera a sobrecarga já existente e intensificada pela qual passam o(a)s
docentes e o(a)s discentes no processo de reestruturação da vida cotidiana que
a quarentena está exigindo. Desconsidera o fato de que aulas on-line exigem
internet e equipamentos de qualidade, o que não é realidade para milhares de
estudantes de origem popular, que hoje cursam as instituições públicas de
educação, desconsidera o caráter pedagógico da aulas presenciais e as
especificidades de cada disciplina e curso, entre outros. Ao defender aulas
on-line, o governo acaba incentivando mais uma vez uma forma de ensino que não
deve ser a principal, mas apenas suporte para o(a) docentes.”
Algumas
faculdades e universidades aderiram ao ensino a distância, dentre elas, de
forma massiva, às particulares.
TRABALHO REMOTO VS.
EXPLORAÇÃO DA MÃO DE OBRA DOCENTE
Pensar
o trabalho remoto precisa incluir prevenções para o período pós-pandêmico, tendo
em vista que os ataques do governo federal não param. Com propostas e projetos
anti-povo, como o projeto Future-se (que trás características privatistas),
qualquer atividade confortável ao governo e ao MEC pode servir de pretexto para
a implantação de sistemas semelhantes futuramente, considerando o projeto
principal de Bolsonaro, a destruição de tudo que é público.
Situações
de esgotamento docente são comuns nas universidades federais, e isso acaba por
incluir também a Unipampa, que para além de questões particulares da
instituição, como a multicampia e a distância entre os campus, possui em sua
comunidade acadêmica alunos periféricos de maneira predominante, e sendo assim,
parte do esforço dos professores e professoras para a efetuação de atividades online
são desperdiçados devido a falta de acesso dos discentes aos materiais
necessários para a realização das propostas, como o acesso a internet e a
computadores.
Exigir
produtividade da categoria docente em tempos de pandemia como algo urgente e
natural da profissão, é ignorar todo trabalho já feito em temos considerados
normais, já que é comum que docentes excedam seus horários de trabalho e também
seja corriqueiro que os mesmos sejam vitimas do produtivismo exacerbado, já que
a ciência e a pesquisa não recebem a importância e investimento necessários e a
prática reflete no acumulo de tarefas e funções.
O SINDOIF, seção
sindical do Andes-SN no IFRS, também levantou debate sobre o trabalho remoto, e
exemplificou através de imagens o que enfrentam os docentes que hoje estão
dentro do modelo EAD sugerido pelo MEC.
IMAGEM:
SINDOIF – SEÇÃO SINDICAL DO ANDES-SN NO IFRS. 02/04/2020
A
SESUNIPAMPA conversou com a 1° secretária do Andes-SN, Caroline Lima. A
política do Andes-SN é de questionar o trabalho remoto e como ele foi
implantado nas universidades, bem como se foi discutido com a base das
categorias.
SESUNIPAMPA:
O
trabalho remoto pode ser considerado EAD?
Caroline: Trabalho remoto não é EAD. O EAD tem
uma metodologia, o EAD ele tem instrumentos específicos. O ensino a distância
ele é um método. O trabalho remoto é outra coisa, inclusive é importante dizer
por que nos somos contra a educação a distância nesse momento de pandemia,
nossos estudantes tem acesso a internet, tem acesso ao computador na
universidade. Com a universidade fechada, mais de 40% dos estudantes não tem acesso a internet ou ao computador.
Por conta disso, o ANDES-SN, o SINASEFE e também a FASUBRA se manifestaram
contra o uso do EAD, por que o EAD nesse momento só acentua as desigualdades
sociais, e trabalho remoto é uma outra coisa.
SESUNIPAMPA:
O
trabalho remoto pode desvalorizar e desqualificar o processo de ensino
aprendizado?
Caroline: O trabalho remoto é uma forma de precarizar
ainda mais nossa mão de obra com certeza. Primeiro que quais são as ações desse
trabalho remoto? O que esta definido? O que o movimento docente definiu? Aí é
que esta a questão. As administrações universitárias que estão impondo o
trabalho remoto em nenhum momento convidou os sindicatos, o DCE, os sindicatos
docentes, sindicatos dos técnicos universitários, a fazer um debate sobre como
manter algumas atividades, nesse momento de pandemia. E quais são as atividades
que podem ser mantidas? Acho que é uma discussão que deve ser feita com as
entidades de classe, né? Isso é muito importante. O trabalho remoto ele pode
ser utilizado como uma forma de flexibilizar ainda mais os nossos direitos e
obviamente explorar ainda mais a nossa mão de obra. O que é o trabalho remoto
para as mulheres? Da mesma forma que a violência doméstica teve um aumento de
quase 20% em todo país, a incidência de agressões, de violência doméstica,
violência a crianças, vem crescendo porque? Por que as mulheres estão ficando
sobrecarregadas, e no momento que é questionado a divisão do cuidado das coisas
da casa e com as crianças, o machismo, ele responde essas questões com o uso da
violência. Os homens usam a violência para não questionar, para que as mulheres
não questionem seu lugar de privilégio, de que o trabalho doméstico é nosso.
Uma outra questão é que o trabalho remoto além de apontar essa sobrecarga ás
professoras, também é uma sobrecarga aos pais e as mães que além de lidar com o
trabalho remoto, tem também que lidar com algumas crianças que estão tendo
tele-aulas. Então o trabalho remoto nesse momento que as pessoas estão tensas,
sofrendo com a perda de familiares por conta do coronavírus, não vai surtir um
trabalho de qualidade nesse momento. Agora obviamente que algumas atividades da
universidade estão mantidas por que a gente está enfrentando o coronavírus, nós
temos universidades produzindo EPI, produzindo máscaras, produzindo álcool em
gel, produzindo álcool, produzindo testes, então assim, as universidades estão
desenvolvendo ações para contribuir na luta contra o COVID. Isso não significa
dizer que no momento que estamos enfrentando o COVID tem que se criar um outro
instrumento de controle do trabalho docente, acho que esse debate de como a
gente vai manter as atividades das universidades tem que ser dialogado e
negociado com as categorias.
SESUNIPAMPA:
O
trabalho remoto pode ser considerado uma estratégia neoliberal de privatização
da educação?
Caroline: Nesse momento de pandemia, esse governo, da
necropolítica, genocida, e o seu ministro do MEC tentam de todas as formas
utilizar a conjuntura de crise para desestruturar as universidades, a carreira
docente, o nosso trabalho. Então temos que estar atentos a toda nova modalidade
de atividades que aparecem reivindicando normalidade. Não estamos em tempos
normais. Reivindicar normalidade agora é reivindicar a desestruturação das
universidades, da nossa carreira, e a flexibilização da nossa mão de obra, e a
gente precisa estar atentos a isso, por que nós temos hoje no governo federal
um agente da defesa, tanto do projeto neoliberal como também da privatização de
tudo que é público. Precisamos continuar defendendo o sistema de saúde,
precisamos continuar defendendo a universidade pública e compreendendo que a
adoção do EAD só vai intensificar desigualdades sociais presentes em nosso
país.
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