terça-feira, 12 de maio de 2020

O trabalho remoto docente e as suas perspectivas


A SESUNIPAMPA conversou com a Caroline Lima, 1ª secretária do ANDES-SN e professora do curso de História da UNEB sobre as definições do trabalho remoto docente.


O trabalho remoto docente vem sendo discutido pelo ANDES-SN e demais seções sindicais, apontando a realidade das condições da classe trabalhadora docente diante do desgaste que o mesmo pode apresentar.
            A Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) não aderiu a modalidade EAD, sugerida pelo Ministério da Educação (MEC), mas ainda se encontra sob os ataques que o governo federal coloca enquanto ensino a distância e a cobrança por produtividade em tempos pandêmicos.
            Sendo uma forma de manter os trabalhadores produtivos durante a pandemia, o trabalho remoto deve ser pensando enquanto uma alternativa, mas principalmente ser discutido com as classes que aderiram a mesma. No contexto dos professores e professoras, o trabalho remoto se dá através o EAD, repudia pelo Andes-SN através da circular 88/2020 no dia 18 de março, onde disse que: “Ao defender aulas on-line, o governo desconsidera a sobrecarga já existente e intensificada pela qual passam o(a)s docentes e o(a)s discentes no processo de reestruturação da vida cotidiana que a quarentena está exigindo. Desconsidera o fato de que aulas on-line exigem internet e equipamentos de qualidade, o que não é realidade para milhares de estudantes de origem popular, que hoje cursam as instituições públicas de educação, desconsidera o caráter pedagógico da aulas presenciais e as especificidades de cada disciplina e curso, entre outros. Ao defender aulas on-line, o governo acaba incentivando mais uma vez uma forma de ensino que não deve ser a principal, mas apenas suporte para o(a) docentes.”
            Algumas faculdades e universidades aderiram ao ensino a distância, dentre elas, de forma massiva, às particulares.
TRABALHO REMOTO VS. EXPLORAÇÃO DA MÃO DE OBRA DOCENTE
            Pensar o trabalho remoto precisa incluir prevenções para o período pós-pandêmico, tendo em vista que os ataques do governo federal não param. Com propostas e projetos anti-povo, como o projeto Future-se (que trás características privatistas), qualquer atividade confortável ao governo e ao MEC pode servir de pretexto para a implantação de sistemas semelhantes futuramente, considerando o projeto principal de Bolsonaro, a destruição de tudo que é público.
     Situações de esgotamento docente são comuns nas universidades federais, e isso acaba por incluir também a Unipampa, que para além de questões particulares da instituição, como a multicampia e a distância entre os campus, possui em sua comunidade acadêmica alunos periféricos de maneira predominante, e sendo assim, parte do esforço dos professores e professoras para a efetuação de atividades online são desperdiçados devido a falta de acesso dos discentes aos materiais necessários para a realização das propostas, como o acesso a internet e a computadores.
        Exigir produtividade da categoria docente em tempos de pandemia como algo urgente e natural da profissão, é ignorar todo trabalho já feito em temos considerados normais, já que é comum que docentes excedam seus horários de trabalho e também seja corriqueiro que os mesmos sejam vitimas do produtivismo exacerbado, já que a ciência e a pesquisa não recebem a importância e investimento necessários e a prática reflete no acumulo de tarefas e funções.
       O SINDOIF, seção sindical do Andes-SN no IFRS, também levantou debate sobre o trabalho remoto, e exemplificou através de imagens o que enfrentam os docentes que hoje estão dentro do modelo EAD sugerido pelo MEC.



IMAGEM: SINDOIF – SEÇÃO SINDICAL DO ANDES-SN NO IFRS. 02/04/2020



A SESUNIPAMPA conversou com a 1° secretária do Andes-SN, Caroline Lima. A política do Andes-SN é de questionar o trabalho remoto e como ele foi implantado nas universidades, bem como se foi discutido com a base das categorias.
SESUNIPAMPA: O trabalho remoto pode ser considerado EAD?

Caroline: Trabalho remoto não é EAD. O EAD tem uma metodologia, o EAD ele tem instrumentos específicos. O ensino a distância ele é um método. O trabalho remoto é outra coisa, inclusive é importante dizer por que nos somos contra a educação a distância nesse momento de pandemia, nossos estudantes tem acesso a internet, tem acesso ao computador na universidade. Com a universidade fechada, mais de 40% dos estudantes  não tem acesso a internet ou ao computador. Por conta disso, o ANDES-SN, o SINASEFE e também a FASUBRA se manifestaram contra o uso do EAD, por que o EAD nesse momento só acentua as desigualdades sociais, e trabalho remoto é uma outra coisa.

SESUNIPAMPA: O trabalho remoto pode desvalorizar e desqualificar o processo de ensino aprendizado?

Caroline: O trabalho remoto é uma forma de precarizar ainda mais nossa mão de obra com certeza. Primeiro que quais são as ações desse trabalho remoto? O que esta definido? O que o movimento docente definiu? Aí é que esta a questão. As administrações universitárias que estão impondo o trabalho remoto em nenhum momento convidou os sindicatos, o DCE, os sindicatos docentes, sindicatos dos técnicos universitários, a fazer um debate sobre como manter algumas atividades, nesse momento de pandemia. E quais são as atividades que podem ser mantidas? Acho que é uma discussão que deve ser feita com as entidades de classe, né? Isso é muito importante. O trabalho remoto ele pode ser utilizado como uma forma de flexibilizar ainda mais os nossos direitos e obviamente explorar ainda mais a nossa mão de obra. O que é o trabalho remoto para as mulheres? Da mesma forma que a violência doméstica teve um aumento de quase 20% em todo país, a incidência de agressões, de violência doméstica, violência a crianças, vem crescendo porque? Por que as mulheres estão ficando sobrecarregadas, e no momento que é questionado a divisão do cuidado das coisas da casa e com as crianças, o machismo, ele responde essas questões com o uso da violência. Os homens usam a violência para não questionar, para que as mulheres não questionem seu lugar de privilégio, de que o trabalho doméstico é nosso. Uma outra questão é que o trabalho remoto além de apontar essa sobrecarga ás professoras, também é uma sobrecarga aos pais e as mães que além de lidar com o trabalho remoto, tem também que lidar com algumas crianças que estão tendo tele-aulas. Então o trabalho remoto nesse momento que as pessoas estão tensas, sofrendo com a perda de familiares por conta do coronavírus, não vai surtir um trabalho de qualidade nesse momento. Agora obviamente que algumas atividades da universidade estão mantidas por que a gente está enfrentando o coronavírus, nós temos universidades produzindo EPI, produzindo máscaras, produzindo álcool em gel, produzindo álcool, produzindo testes, então assim, as universidades estão desenvolvendo ações para contribuir na luta contra o COVID. Isso não significa dizer que no momento que estamos enfrentando o COVID tem que se criar um outro instrumento de controle do trabalho docente, acho que esse debate de como a gente vai manter as atividades das universidades tem que ser dialogado e negociado com as categorias.




SESUNIPAMPA: O trabalho remoto pode ser considerado uma estratégia neoliberal de privatização da educação?

Caroline: Nesse momento de pandemia, esse governo, da necropolítica, genocida, e o seu ministro do MEC tentam de todas as formas utilizar a conjuntura de crise para desestruturar as universidades, a carreira docente, o nosso trabalho. Então temos que estar atentos a toda nova modalidade de atividades que aparecem reivindicando normalidade. Não estamos em tempos normais. Reivindicar normalidade agora é reivindicar a desestruturação das universidades, da nossa carreira, e a flexibilização da nossa mão de obra, e a gente precisa estar atentos a isso, por que nós temos hoje no governo federal um agente da defesa, tanto do projeto neoliberal como também da privatização de tudo que é público. Precisamos continuar defendendo o sistema de saúde, precisamos continuar defendendo a universidade pública e compreendendo que a adoção do EAD só vai intensificar desigualdades sociais presentes em nosso país.

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