Em
meio á pandemia do coronavírus, a SESUNIPAMPA pensa o conceito de “nova
normalidade” e reflete sobre como ficam as lutas sociais em um momento de
excepcionalidade e que exige novas formas de pensar a organização das
categorias de trabalho.
Enquanto o Brasil ultrapassa as 100 mil
vidas perdidas devido a pandemia da COVID-19, se discute ferramentas e
alternativas de mediar a situação pandêmica e manter em funcionamento serviços,
instituições e demais espaços que exigem presença física.
Com
as lutas sociais não foi diferente. Movimentos, sindicatos, seções sindicais,
organizações políticas e todos que possuem construção coletiva em suas bases
tiveram que pensar maneiras de manter diálogo, estudos, funcionamentos gerais e
uma atuação ativa na sociedade. Como a principal ferramenta sempre foi a luta
nas ruas, ter a mesma inviabilizada pela pandemia foi algo que tirou todos e
todas das construções habituais e trouxe outra realidade.
Porém,
atrelado a esta nova forma de pensar a comunicação, outras demandas emergem e
se mostram prioritárias. Mais de 100 mil mortes, negligência por parte dos
governos, pouca assistência social e diversos problemas apontados no auxílio
emergencial que não atingiu todos os brasileiros e brasileiras em situação de
vulnerabilidade social. A flexibilização da quarentena, expondo como suficiente
apenas o uso da mascara para sair de casa resulta no avanço da pandemia e não
temos nenhuma perspectiva de resolução da situação, tendo em vista que
prefeitos, governadores e o governo federal demonstram displicência pela vida
colocando a classe trabalhadora exposta da maneira mais cruel: tendo que
trabalhar para não morrer de fome, tendo grandes chances de morrer pelo vírus.
Em meio a todas as problemáticas,
existe o pensamento de que é preciso pensar um “novo normal” e se adaptar as
condições de vida existentes hoje. Se desconsidera a interação social, saúde
psíquica e a conjuntura que o Brasil se encontra, para ser possível pensar um
novo normal.
A crueldade por trás do “novo normal”.
O
novo normal pensa uma vida pós pandemia que ainda não existe e sequer apresenta
uma possibilidade de ter fim. Sem ações efetivas dos governos e com a
responsabilidade dos aumentos dos casos nas costas da população, quem acaba por
sofrer de todas as formas possíveis com a situação é a classe trabalhadora.
Enquanto é possível para alguns permanecer em casa e optar pelo tele-trabalho,
existe outra parcela da classe trabalhadora (que é a maior e predominante)
continua exposta aos perigos do vírus para manter uma pequena renda e
subsistir.
Considerar
as vidas perdidas também é considerar que outros ficaram, e consequentemente o
sofrimento pelos que se foram passa a fazer parte de muitas famílias
brasileiras, que não estão tendo seu direito ao luto devido o atropelo da
necessidade de manter as atividades em funcionamento.
Pensar
em seguir em frente quando diariamente perdemos nosso povo não é possível para
os vulneráveis social, que possuem como prioridade obter renda para insumos e
alimentos, ou para os que sofrem a perda de entes queridos. Não existe um
passado, pois ele ainda é o presente para muitas famílias.
Os
profissionais da saúde que hoje são linha de frente no combate a pandemia da
COVID-19 estão trabalhando arduamente para trabalhar com as demandas que surgem
do SUS, que mesmo com suas limitações, provou ao mundo que ainda é o sistema
mais eficaz em meio a pandemia. É preciso reivindicar também valorização e
direitos trabalhistas para os profissionais de saúde, que hoje sofrem com o
cenário do povo brasileiro e com a precarização de seu trabalho.
Entrevista da semana
A SESUNIPAMPA conversou com o
Antonio Gonçalves Filho, prof. no curso de medicina da Universidade Federal do
Maranhão e presidente do ANDES-SN sobre os impactos da “nova normalidade” para
a classe trabalhadora e as universidade federais.
SESUNIPAMPA: Como
você percebe essa imposição de uma nova normalidade nesse contexto de pandemia?
Qual o impacto disso na vida da classe trabalhadora?
Antonio: “Avalio que mesmo no contexto da pandemia, quando o papel do Estado nacional se mostra relevante para a superação da maior crise sanitária dos últimos cem anos, o projeto neoliberal de educação arrefeceu. A tentativa de ampliar o percentual de conteúdos ministrados remotamente em cursos presenciais vem de antes da pandemia, como estabeleceu a Portaria 2.117 do MEC em dezembro de 2019, mas é durante a pandemia que surgiu a oportunidade de impor a modalidade de ensino remoto.
O impacto imediato é a exclusão de parcela significativa de estudantes e trabalhadores em educação do processo de ensino-aprendizagem, com perda da qualidade. Muitos estudantes não dispõem de acesso à internet nem de dispositivos que permitam esse acesso. Há de se considerar que muitos docentes não têm treinamento para lidar com a modalidade de ensino remoto e precisariam ser capacitados para essa tarefa.
Por isso, considero indispensável um diagnóstico abrangente das reais condições de acesso e preparo de estudantes, docentes e técnico-administrativos, com amplo debate com a comunidade. Há de se pesquisar sobre as condições de vida dos estudantes indígenas, ribeirinhos, da periferia e com deficiência para que se possa incluí-los nas soluções a serem construídas, compreendendo que a situação é excepcionalíssima e que na eventualidade de se decidir pelo ensino remoto, e aqui cabe diferenciá-lo da educação a distância, esse deve ser temporário, inclusivo, respeitando o direito de imagem de professores.
O ensino remoto não deve servir
para acelerar a formação profissional, com estágio à distância, feito sem
qualidade. A quem interessa esse aligeiramento? Nosso compromisso deve ser
garantir o tripé ensino-pesquisa e extensão na educação superior, com qualidade
socialmente referenciada.”
SESUNIPAMPA: O uso da mediação tecnológica nas atividades de ensino, o uso do ensino remoto pode ser considerada um risco para a educação de qualidade no pós pandemia?
Antonio: “Tenho convicção que sim. O custo do ensino remoto é muito inferior ao do presencial e garante o lucro de muitas instituições privadas de ensino, porém a qualidade é baixa e as interações sociais precárias.
Em um cenário de escassez de recursos, agravado pela aprovação da Emenda Constitucional 95/2016 e o anúncio pelo governo federal de um corte orçamentário de 18,2% para as IES públicas em 2021, soluções de baixo custo, mesmo que de baixa qualidade, podem ser apontadas como solução por aqueles que não têm compromisso com a educação pública de qualidade.
O esforço deveria ser em colocar os avanços tecnológicos a favor de um projeto de educação pública de qualidade, inclusiva e não a serviço do lucro.”
SESUNIPAMPA: Como as
lutas sociais podem ser potencializadas no enfrentamento a necropolítica do
Governo Federal e ao combate a pandemia?
Antonio: “A pandemia trouxe uma dificuldade adicional
no processo de reorganização da classe trabalhadora, tão necessária para fazer
frente ao avanço do projeto do capital de reconfiguração do Estado e no
enfrentamento aos retrocessos civilizatórios do governo federal de
extrema-direita, com traços protofascistas, que adota uma política genocida de
enfrentamento à pandemia.
Em março, vínhamos em um processo de construção de greve nacional da
educação e chegamos a constituir um comando nacional de mobilização e greve que
foi interrompido com o avanço da pandemia. Há de se considerar que parcela
significativa da classe trabalhadora não tem conseguido manter o isolamento
social e continua exposta a transportes públicos superlotados, a precárias
condições de trabalho, ao desemprego e à informalidade, na busca pela
subsistência. Potencializar as lutas sociais nesse contexto, portanto, é muito
difícil sob pena de por ainda mais em risco a vida de trabalhadores e
trabalhadoras.
O ANDES-SN tem feito um grande esforço de, respeitando o necessário
isolamento social, manter a mobilização para a retomada das ruas e o trabalho
de base presencial assim que for possível, mas nossa prioridade é salvar vidas.
Várias ações de solidariedade de classe foram feitas ao longo desse último
período. Entendemos que não é possível nesse momento convocarmos atos massivos
de rua, mas temos apoiado aqueles que têm sido convocados por algumas
categorias, do mesmo modo apoiamos as greves que têm ocorrido, algumas com
caráter sanitário.
Fortaleça seu sindicato.
Filie-se!
Mais informações: sesunipampa.andes@gmail.com
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