quarta-feira, 8 de julho de 2020

SESUNIPAMPA participa de reunião conjunta dos setores do ANDES-SN



  Aconteceu na ultima quinta-feira (02) a reunião conjunta dos setores das IEES/IMES e IFES do ANDES-SN. Devido a pandemia do coronavírus, a reunião novamente foi de maneira virtual, e se dividiu em 2 turnos, pela manhã e a tarde.
  Com a finalidade de discutir a conjuntura da educação pública brasileira, o primeiro momento foi de repasses de informes por parte das seções sindicais que integram o sindicato nacional e posteriormente se iniciaram debates a cerca do trabalho e ensino remoto e a abertura da modalidade EaD, sugerida pelo Ministério da Educação para que sejam retomadas às aulas.
   Também foi discutida a Lei 14.010/2020 e as Assembleias On-line, tendo em vista que o Estatuto do ANDES-SN não prevê esta modalidade como meio deliberativo, mas que em um momento como este, de excepcionalidade, todas as seções devem buscar manter o dialogo com a base através dos meios virtuais, já que a organização sindical e mobilização das lutas não podem parar.

A SESUNIPAMPA se posiciona durante a reunião...

  Como representante da seção sindical SESUNIPAMPA na reunião, o presidente, Prof. Cesar Beras, repassou aos demais participantes a atual situação da Unipampa e da categoria docente, que enfrenta um calendário acadêmico proposto pela reitoria de maneira atropelada e sem diálogo com a base da universidade. O professor também contribui com uma análise conjuntural, e apontou questões diretas que demonstram a displicência do governo federal para com o serviço público.

“Vivemos um processo de necessária resistência à construção de um nicho neoliberal no Brasil, representado pelo governo Bolsonaro, aturado pela burguesia nacional, mesmo que em suas disputas de frações, setores militares e setores do judiciário, que se assenta em aproximadamente 30% da população. Verificamos como exemplo simbólico disso um modus operandi de construção do governo sem nenhum a preocupação com sua composição (vide ausência do ministro de saúde e dificuldades em nomear um ministro da educação). Não há respeito às instituições  publicas e sua condução. Há uma desresponsabilização e destruição de um Estado Social e das necessárias politicas publicas voltadas para as reais necessidades das pessoas. Não obstante, percebemos que há uma nítida orientação e construção/afirmação de um projeto ultraliberal de privatização do Estado Público. Os desmandos do governo expresso em seu modus operandi e os escândalos que o rondam não atrapalham e nem estão atrasando esse projeto. Neste cenário, aliado ao atropelo governamental por uma volta as aulas por ensino remoto que se configura nossa quadro de necessária resistência, algo que ja estamos fazendo e precisamos potencializar.” (Prof. Cesar Beras)


  O professor também contribuiu com a análise da SESUNIPAMPA sobre o trabalho remoto, que hoje se apresenta enquanto uma séria problemática da categoria docente e que aumenta o processo de precarização tanto do processo de ensino aprendizado, como da própria profissão docente. Pensando também a proposta de calendário da reitoria, Beras diz que:


“O ensino remoto é uma forma direta de precarização e adoecimento da categoria profissional, pois causa uma dupla submissão: do processo de ensino aprendizado à uma logica de ensino digital apressada, um arremedo de EaD, sem as condições de acesso e de utilização adequadas e causa o adoecimento profissional e de toda a comunidade acadêmica, a partir de uma serie de coisas não resolvidas (bolsas, recuperação, aulas praticas, avaliações) em tempos de pandemia acontecendo, aonde sentimos emocionalmente seu impacto. Aqui na UNIPAMPA o processo de “volta as aulas” esta sendo atropelado já com uma tentativa para o dia 20 de julho e outra agora para a primeira semana de agosto. Um processo fragmentado, que joga a responsabilidade para os campus, gestores e professores(as) e que enquanto “consulta” já esta também em andamento com formações aceleradas para plataformas digitais e ignorando uma serie de preocupações dos 10 campi da universidade. Além de se querer por aqui, realizar dois semestres em um. Estamos resistindo pela base e buscando  enquanto categoria afirmar a democracia e transparência na discussão de retorno, a não exclusão de ninguém, ninguém pode ficar para trás e a preservação acima de tudo de todas as vidas. Neste sentido vamos resistir até o fim.” (Prof. Cesar Beras).
    Referente às questões das assembleias virtuais, e demais atividades e ações que estão tendo a necessidade de acontecer de maneira virtual, o representante da seção entende que mesmo aderindo a modalidade virtual temporariamente, não significa que a mesmo tenha “vindo para ficar” ou que deva ser implantada permanentemente, apenas não se deve esvaziar debates devido a problemática presencial.

“As assembleias e o CONAD, razão de ser dessas ocorre em um momento de excepcionalidade não significa em momento algum a mudança de nossa metodologia de usar mecanismos de participação direta e não capitular a processo on-line. Neste momento tal processo é uma tarefa politica de fortalecimento jurídico e politico da prorrogação do mandato da atual direção. Portanto é um processo de pacto político para o momento sobre a utilização de assembleias e encontros virtuais.” (Prof. Cesar Beras)

Entrevista com a Celeste Pereira, Presidente da ADUFPEL.
 Conversamos com a Presidente da ADUFPEL, Celeste Pereira, sobre a reunião dos setores e sobre a questão do retorno das aulas da maneira como está ocorrendo nas universidades. Considerando os 41 anos da ADUFPEL, também dialogamos sobre como a seção sindical vem enfrentando tantos ataques à educação e a categoria docente.

SESUNIPAMPA: Considerando nossas análises realizadas na última reunião dos setores do ANDES/SN (em 02 de julho) quais os principais desafios colocados pela conjuntura?

Celeste: “Temos que compreender que os empresários das grandes corporações da educação estão de olho nesta "fatia do mercado" e que isto não é um interesse pontual nem surgiu agora. Reflete a orientação do banco mundial para os países em desenvolvimento: considerar a saúde e a educação como serviços a serem explorados no mercado. E, neste momento, encontram eco e apoio no (des)governo Bolsonaro e Mourão. Por isso, os servidores públicos estão na mira do governo. Desqualifica-los e desconstruir sua carreira e direitos é preparação do terreno para entregar para a iniciativa privada estes bens tão caros para a população brasileira e conquistados na luta. Além disso, a perspectiva segregadora onde pretos e pobres não terão acesso aos bancos das universidades.”

SESUNIPAMPA: Como você avalia as tentativas de inserção do  ensino remoto como alternativa de volta às aulas?

Celeste: “Temos estudado muito esse tema. Considerando o perfil dos nossos estudantes, sabemos que boa parte deles são de famílias humildes, muitas em situação de vulnerabilidade social mesmo. As tecnologias e seus avanços representam um avanço científico sem dúvidas, mas há que se considerar a realidade de uma parte grande da população. Os celulares são tecnologia disseminada pelo mundo, porém nem todas as famílias tem condições de te-los; nem todos têm acesso à internet e, quando tem, é através de alguma rede pública ou aberta. Além disso, muitos dos nossos estudantes, tem aparelhos celulares para comunicação nas redes sociais. São aparelhos que não comportam aplicativos ou programas para acompanhamento de aulas remotas. Esta realidade esta posta também para os docentes que, neste momento, precisam utilizar ser próprios equipamentos para a organização de aulas online, com seus recursos próprios e, muitas vezes, sem domínio das plataformas virtuais, já que significam um cenário muito diverso daquele que se coloca nas atividades presenciais. Sem contar no reflexo para o processo de ensinar e aprender, onde a  troca e o contato atento aos  processos individuais e coletivos são fundamentais. Estes são alguns argumentos, mas o debate é ainda mais profundo. A pandemia nos exige adaptações, mas não podemos perder de vista o papel de formação de sujeitos críticos no mundo com capacidade para intervir na sociedade. Esta linha mestra do processo formativo é que está sendo atacada.”




SESUNIPAMPA: A ADUFPEL completou 41 anos de existência como entidade que defende os interesses da categoria docente. Como tem sido a luta neste contexto de pandemia e considerando as medidas de apressamento de volta às aulas na UFPEL?

Celeste: “Trago aqui alguns elementos para uma analise inicial, pois é tema complexo demais, com inúmeras possibilidades de desdobramentos. Nossa entidade surgiu exatamente para defender os interesses da categoria docente na perspectiva classista, compreendendo que somos todos trabalhadores, com regras de contrato a cumprir, carga horária, tarefas, produtos a realizar e salário pelo cumprimento das atividades contratadas. Neste sentido, e considerando o cenário nacional, temos buscado debater as propostas encaminhada junto à UFPEL.  O calendário alternativo aprovado no COCEPE ignorou as considerações e apelos das entidades representativas. Para nós, reflete o ensaio para a implantação do ensino remoto 'emergencial', para que assuma caráter de permanência e mantenha inclusive afastadas as categorias, o que dificulta sua organização política, além de significar um retrocesso do ponto de vista da inclusão social. O estado investirá em comprar plataformas do setor privado, ou estabelecer parcerias com essas grandes corporações, que implicação na padronização do ensino com utilização de materiais didáticos pré estabelecidos, sistema de controle externo sobre estudantes e trabalhadores, e sobre os produtos construídos nas universidades que deverão servir ao mercado e não necessariamente à sociedade. E nem tocamos aqui nos aspectos psicológicos trazidos neste contexto de pandemia.”

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