Aconteceu
na ultima quinta-feira (02) a reunião conjunta dos setores das IEES/IMES e IFES
do ANDES-SN. Devido a pandemia do coronavírus, a reunião novamente foi de
maneira virtual, e se dividiu em 2 turnos, pela manhã e a tarde.
Com a finalidade de discutir a
conjuntura da educação pública brasileira, o primeiro momento foi de repasses
de informes por parte das seções sindicais que integram o sindicato nacional e
posteriormente se iniciaram debates a cerca do trabalho e ensino remoto e a
abertura da modalidade EaD, sugerida pelo Ministério da Educação para que sejam
retomadas às aulas.
Também foi discutida a Lei 14.010/2020 e as
Assembleias On-line, tendo em vista que o Estatuto do ANDES-SN não prevê esta
modalidade como meio deliberativo, mas que em um momento como este, de
excepcionalidade, todas as seções devem buscar manter o dialogo com a base
através dos meios virtuais, já que a organização sindical e mobilização das
lutas não podem parar.
A
SESUNIPAMPA se posiciona durante a reunião...
Como representante da seção sindical
SESUNIPAMPA na reunião, o presidente, Prof. Cesar Beras, repassou aos demais
participantes a atual situação da Unipampa e da categoria docente, que enfrenta
um calendário acadêmico proposto pela reitoria de maneira atropelada e sem
diálogo com a base da universidade. O professor também contribui com uma
análise conjuntural, e apontou questões diretas que demonstram a displicência
do governo federal para com o serviço público.
“Vivemos um processo de
necessária resistência à construção de um nicho neoliberal no Brasil,
representado pelo governo Bolsonaro, aturado pela burguesia nacional, mesmo que
em suas disputas de frações, setores militares e setores do judiciário, que se
assenta em aproximadamente 30% da população. Verificamos como exemplo simbólico
disso um modus operandi de construção do governo sem nenhum a preocupação com
sua composição (vide ausência do ministro de saúde e dificuldades em nomear um
ministro da educação). Não há respeito às instituições publicas e sua condução. Há uma
desresponsabilização e destruição de um Estado Social e das necessárias
politicas publicas voltadas para as reais necessidades das pessoas. Não
obstante, percebemos que há uma nítida orientação e construção/afirmação de um
projeto ultraliberal de privatização do Estado Público. Os desmandos do governo
expresso em seu modus operandi e os escândalos que o rondam não atrapalham e
nem estão atrasando esse projeto. Neste cenário, aliado ao atropelo
governamental por uma volta as aulas por ensino remoto que se configura nossa
quadro de necessária resistência, algo que ja estamos fazendo e precisamos
potencializar.” (Prof. Cesar Beras)
O
professor também contribuiu com a análise da SESUNIPAMPA sobre o trabalho
remoto, que hoje se apresenta enquanto uma séria problemática da categoria
docente e que aumenta o processo de precarização tanto do processo de ensino
aprendizado, como da própria profissão docente. Pensando também a proposta de
calendário da reitoria, Beras diz que:
“O
ensino remoto é uma forma direta de precarização e adoecimento da categoria
profissional, pois causa uma dupla submissão: do processo de ensino aprendizado
à uma logica de ensino digital apressada, um arremedo de EaD, sem as condições
de acesso e de utilização adequadas e causa o adoecimento profissional e de
toda a comunidade acadêmica, a partir de uma serie de coisas não resolvidas (bolsas,
recuperação, aulas praticas, avaliações) em tempos de pandemia acontecendo,
aonde sentimos emocionalmente seu impacto. Aqui na UNIPAMPA o processo de
“volta as aulas” esta sendo atropelado já com uma tentativa para o dia 20 de
julho e outra agora para a primeira semana de agosto. Um processo fragmentado,
que joga a responsabilidade para os campus, gestores e professores(as) e que
enquanto “consulta” já esta também em andamento com formações aceleradas para
plataformas digitais e ignorando uma serie de preocupações dos 10 campi da
universidade. Além de se querer por aqui, realizar dois semestres em um. Estamos
resistindo pela base e buscando enquanto
categoria afirmar a democracia e transparência na discussão de retorno, a não
exclusão de ninguém, ninguém pode ficar para trás e a preservação acima de tudo
de todas as vidas. Neste sentido vamos resistir até o fim.” (Prof.
Cesar Beras).
Referente
às questões das assembleias virtuais, e demais atividades e ações que estão
tendo a necessidade de acontecer de maneira virtual, o representante da seção
entende que mesmo aderindo a modalidade virtual temporariamente, não significa
que a mesmo tenha “vindo para ficar” ou que deva ser implantada
permanentemente, apenas não se deve esvaziar debates devido a problemática
presencial.
“As
assembleias e o CONAD, razão de ser dessas ocorre em um momento de
excepcionalidade não significa em momento algum a mudança de nossa metodologia
de usar mecanismos de participação direta e não capitular a processo on-line. Neste
momento tal processo é uma tarefa politica de fortalecimento jurídico e
politico da prorrogação do mandato da atual direção. Portanto é um processo de
pacto político para o momento sobre a utilização de assembleias e encontros
virtuais.” (Prof. Cesar Beras)
Entrevista com a Celeste
Pereira, Presidente da ADUFPEL.
Conversamos com a Presidente da ADUFPEL, Celeste Pereira,
sobre a reunião dos setores e sobre a questão do retorno das aulas da maneira
como está ocorrendo nas universidades. Considerando os 41 anos da ADUFPEL,
também dialogamos sobre como a seção sindical vem enfrentando tantos ataques à
educação e a categoria docente.
SESUNIPAMPA:
Considerando nossas análises realizadas na última reunião dos setores do
ANDES/SN (em 02 de julho) quais os principais desafios colocados pela
conjuntura?
Celeste: “Temos que compreender que os empresários das
grandes corporações da educação estão de olho nesta "fatia do
mercado" e que isto não é um interesse pontual nem surgiu agora. Reflete a
orientação do banco mundial para os países em desenvolvimento: considerar a
saúde e a educação como serviços a serem explorados no mercado. E, neste
momento, encontram eco e apoio no (des)governo Bolsonaro e Mourão. Por isso, os
servidores públicos estão na mira do governo. Desqualifica-los e desconstruir
sua carreira e direitos é preparação do terreno para entregar para a iniciativa
privada estes bens tão caros para a população brasileira e conquistados na
luta. Além disso, a perspectiva segregadora onde pretos e pobres não terão
acesso aos bancos das universidades.”
SESUNIPAMPA:
Como você avalia as tentativas de inserção do
ensino remoto como alternativa de volta às aulas?
Celeste: “Temos estudado muito esse tema.
Considerando o perfil dos nossos estudantes, sabemos que boa parte deles são de
famílias humildes, muitas em situação de vulnerabilidade social mesmo. As
tecnologias e seus avanços representam um avanço científico sem dúvidas, mas há
que se considerar a realidade de uma parte grande da população. Os celulares
são tecnologia disseminada pelo mundo, porém nem todas as famílias tem
condições de te-los; nem todos têm acesso à internet e, quando tem, é através
de alguma rede pública ou aberta. Além disso, muitos dos nossos estudantes, tem
aparelhos celulares para comunicação nas redes sociais. São aparelhos que não
comportam aplicativos ou programas para acompanhamento de aulas remotas. Esta realidade
esta posta também para os docentes que, neste momento, precisam utilizar ser
próprios equipamentos para a organização de aulas online, com seus recursos
próprios e, muitas vezes, sem domínio das plataformas virtuais, já que
significam um cenário muito diverso daquele que se coloca nas atividades
presenciais. Sem contar no reflexo para o processo de ensinar e aprender, onde
a troca e o contato atento aos processos individuais e coletivos são
fundamentais. Estes são alguns argumentos, mas o debate é ainda mais profundo.
A pandemia nos exige adaptações, mas não podemos perder de vista o papel de
formação de sujeitos críticos no mundo com capacidade para intervir na
sociedade. Esta linha mestra do processo formativo é que está sendo atacada.”
SESUNIPAMPA: A
ADUFPEL completou 41 anos de existência como entidade que defende os interesses
da categoria docente. Como tem sido a luta neste contexto de pandemia e
considerando as medidas de apressamento de volta às aulas na UFPEL?
Celeste: “Trago aqui alguns elementos para uma
analise inicial, pois é tema complexo demais, com inúmeras possibilidades de
desdobramentos. Nossa entidade surgiu exatamente para defender os interesses da
categoria docente na perspectiva classista, compreendendo que somos todos
trabalhadores, com regras de contrato a cumprir, carga horária, tarefas,
produtos a realizar e salário pelo cumprimento das atividades contratadas.
Neste sentido, e considerando o cenário nacional, temos buscado debater as
propostas encaminhada junto à UFPEL. O
calendário alternativo aprovado no COCEPE ignorou as considerações e apelos das
entidades representativas. Para nós, reflete o ensaio para a implantação do
ensino remoto 'emergencial', para que assuma caráter de permanência e mantenha
inclusive afastadas as categorias, o que dificulta sua organização política,
além de significar um retrocesso do ponto de vista da inclusão social. O estado
investirá em comprar plataformas do setor privado, ou estabelecer parcerias com
essas grandes corporações, que implicação na padronização do ensino com
utilização de materiais didáticos pré estabelecidos, sistema de controle
externo sobre estudantes e trabalhadores, e sobre os produtos construídos nas universidades
que deverão servir ao mercado e não necessariamente à sociedade. E nem tocamos
aqui nos aspectos psicológicos trazidos neste contexto de pandemia.”
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