terça-feira, 8 de setembro de 2020

A luta das instituições de ensino federais em meio á pandemia da COVID-19

 

As instituições de ensino federais foram e são alvos do governo Bolsonaro desde o inicio da pandemia, conversamos com o presidente do SINDOIF sobre as perspectivas de luta e resistência em meio ao cenário de destruição do ensino público.

As instituições de ensino em meio á pandemia

     A pandemia da COVID-19 impossibilitou muitos serviços devido a propagação pelo vírus se dar através do contato entre pessoas. Nos espaços educacionais, onde existia um número considerável de pessoas por sala de aula, não foi diferente. As aulas foram suspensas em todos os níveis, desde o ensino básico ao ensino superior.
       O coronavírus que chegou com força no Brasil em março, se estende ainda ao mês atual (setembro) e não apresenta perspectiva de erradicação, já que os governantes não possuem uma política de enfrentamento, e em sua grande maioria destinou forças para proteger a economia (grandes empresários).
     Em Manaus o retorno das aulas presenciais para o ensino básico resultou em mais de 342 professores contaminados.

 Em apenas 15 dias da volta às aulas presenciais em Manaus (AM), 342 professores do ensino médio da rede pública testaram positivo para o novo coronavírus. As aulas no ensino médio foram retomadas no dia 10 de agosto.  A situação fez com que o governador Wilson Lima (PSC) decretasse o adiamento por tempo indeterminado da retomada das atividades do ensino fundamental, que deveria ter começado na última segunda-feira (24). Porém, as aulas presenciais no ensino médio foram mantidas” (ANDES-SN, 09/2020 – matéria completa em: https://www.andes.org.br/conteudos/noticia/apos-retorno-do-ensino-medio-presencial-em-manaus-342-professores-ja-foram-contaminados-pelo-novo-co)           

       No IFRS, as aulas estão ocorrendo de maneira não presencial, mas os efeitos do ensino remoto já estão se manifestando e trazendo angústias para a categoria docente e para os alunos, tendo em vista que as desigualdades sociais são acentuadas em meio a necessidade do uso da tecnologia e do acesso as redes de internet, as quais não são todos que possuem capital financeiro para ter tais serviços disponíveis.

        Na matéria do SINDOIF (Seção sindical do ANDES-SN no IFRS) denominada “As consequências e os significados do ensino remoto”, atentamos para o debate sobre a atribuição de novas palavras para modalidades que possuem o mesmo significado, como uma forma de legitimar as ações excludentes das reitorias e governos displicentes.

Segundo a Profª Kate Lane, docente da carreira EBTT que atua no COLUNI, na Universidade Federal Fluminense (UFF), vivenciamos “o incrível caso da geração que leu Foucault e acreditou que, mudando as palavras, mudariam as coisas. Não se fala em Educação à Distância, mas em Educação Não Presencial; não damos aula online, fazemos encontros virtuais simultâneos; não aceitamos imposições, nós as “ressignificamos”; não temos mais emoções, temos “gatilhos”; porque, agora, tudo é “potência”. E as coisas seguem exatamente como sempre foram: desiguais e excludentes.” (SINDOIF, 08/2020 – matéria completa em: https://www.andes.sindoif.org.br/2020/08/27/as-consequencias-e-os-significados-do-ensino-remoto/)

      A problemática se estende as universidades federais, como a UNIPAMPA, que inicia nesta semana as aulas através do ensino remoto, e deixou lacunas no que se refere á inclusão dos alunos mais vulneráveis e também questões trabalhistas docentes.

Os cortes nas instituições de ensino federais

      Em meio ao enfrentamento das demandas do ensino remoto, em agosto o MEC anunciou a redução orçamentária dos recursos destinados á educação. O corte (de R$ 4,2 bilhões) afetará diretamente no funcionamento das instituições de ensino federais, mais especificamente no que se refere ás contas de água, luz, serviços de limpeza, entre outros.
      O ANDES-SN lembra que é importante pressionar os parlamentares para que não votem a favor do corte, e que assumam seu compromisso com a educação pública, e não com a política do governo Bolsonaro, que é entreguista e não valoriza os serviços públicos, bem como seus profissionais. Os cortes ocorrem devido a aprovação da EC 95, que congela os gastos públicos até 2036.

O orçamento alocado para verbas discricionárias do MEC caiu de R$ 21,837 bilhões para R$ 19,955 bi. Já para Ciência, Tecnologia e Inovação foi de R$ 3,784 bi para R$ 2,735 bi, uma queda de 27,71%. E para a Saúde houve redução de R$ 18,606 bi para R$ 16,348 bi (-12,13%). Somados, os recursos retirados somente da Saúde, Educação e Ciência, Tecnologia e Inovação, representam R$ 5,18 bilhões.

Também foram alvos de ataques das tesouras do governo os ministérios do Meio Ambiente, Justiça e Segurança Pública, Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Cidadania, Desenvolvimento Regional e Turismo”(ANDES-SN, 09/2020 – matéria completa em: https://www.andes.org.br/conteudos/noticia/em-meio-a-pandemia-educacao-saude-e-ceT-perdem-recursos-no-pLOA-20211)

     Ao mesmo tempo que apresenta cortes nas áreas citadas acima, o governo Bolsonaro anuncia o aumento de 16,16% para as forças armadas, deixando explicita a displicência do governo com investimentos sociais.
     O governo Bolsonaro também anunciou cortes orçamentários na Educação para além da EC 95, como foi em 2019, com o corte de 34% no orçamento das instituições de ensino federais, e enfrentou como resposta a fúria da juventude nas ruas, através dos Tsunamis da Educação, que defendeu o ensino público, gratuito, laico e de qualidade para todos e todas, e encheu as ruas do Brasil como forma de resistência.
      Sabemos que a juventude e a classe trabalhadora docente são aguerridas nas lutas em defesa da educação, e em 2020 mesmo com as limitações da pandemia não deixaram de denunciar e expor os desmontes causados pelos governos inimigos da educação e dos trabalhadores.
        Também sabemos que é necessário pensar novas formas de enfrentamento e seguir denunciando os ataques que sofre toda comunidade escolar e acadêmica. Manter a população consciente e informada sobre as políticas do governo é fundamental para tentar barrar cortes e outros ataques.


(Imagem: ANDES-SN)

Entrevista da semana

            A SESUNIPAMPA conversou com o Professor no IFRS Campus Porto Alegre, André Rosa Martins, doutor em engenharia e ciência de alimentos, atual presidente do SINDOIF - Seção Sindical do ANDES-SN e militante da Unidade Classista. Confira a entrevista:

SESUNIPAMPA: Quais os principais desafios da luta da classe trabalhadora em tempos de pandemia?

André: “O principal desafio da classe trabalhadora neste cenário de avanço da extrema-direita, do fascismo e da xenofobia, e diante de uma pandemia com um impacto tão devastador como não se via há mais de 1 século, é buscar caminhos de reorganização efetiva da classe. O alto grau de fragmentação da classe trabalhadora no Brasil pavimentou, em grande medida, o avanço do golpe em 2016 e a incapacidade de enfrentar as políticas neoliberais e de retirada de direitos que se seguiram, como as reformas trabalhista e previdenciária, dentre outras. É fundamental que se construa um encontro da classe trabalhadora para construir e firmar a perspectiva de uma reorganização que possa ampliar a perspectiva classista para além dos sindicatos e centrais sindicais, com objetivo de consolidar pautas importantes para o enfrentamento da conjuntura e que venha apontar para uma ampla coalização que combata o fascismo.”

SESUNIPAMPA: Como as propostas de ensino remoto tem impactado os institutos federais? E qual a posição do SINDOIF a respeito?


André: “Assim como nas universidades, nos institutos federais a pauta do ensino remoto está na ordem do dia, como uma falsa resposta de trabalho das instituições de ensino à sociedade, no momento de avanço da pandemia. Infelizmente a maioria das instituições de ensino está cedendo às pressões de Bolsonaro para assumir a educação remota, que rebaixa a qualidade do ensino e é excludente em todas os locais onde está sendo aplicado. Esse movimento aponta, inclusive, para uma significativa redução do orçamento de investimento e custeio de universidades e institutos federais para 2021, com o governo federal apostando em uma proposta de consolidar o ensino remoto, ou um ensino híbrido, como a nova realidade pós-pandemia.”

SESUNIPAMPA: Como avalias a imposição de uma “nova normalidade que tem sido copautada pelo capitalismo?

André: “Há um risco efetivo de construção de um projeto de “escola remota”, no sentido da normalizar o ensino à distância como prática no pós-pandemia das universidades e institutos federais. Para o neoliberalismo seria um cenário perfeito, onde não teria necessidade de maior investimento em imobilizado e o custeio das instituições de ensino seria significativamente reduzido com o distanciamento entre uma parcela expressiva de estudantes e de trabalhadores em educação. O retorno presencial seguro no pós-pandemia será o grande desafio das instituições de ensino na construção de um ambiente que possa viabilizar a retomada de uma educação de qualidade, com o contra efetivo contra práticas excludentes como o ensino remoto.”

 

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