O 61º CONAD do ANDES-SN, com o tema
“Defesa dos direitos sociais, da educação e dos serviços públicos”, realizou-se
na cidade de Boa Vista, Roraima, sob a organização da SESDUF-RR Seção Sindical,
e contou com a participação de 51 delegados, 146 observadores de 57 Seções
Sindicais e 4 convidados, no período de 30 de junho a 3 de julho 2016.
Resistência, paixão, emoção... Luta
coletiva. Essas palavras talvez consigam enunciar com brevidade o clima
experimentado pelos delegados e delegadas, observadores e observadoras,
convidados e convidadas do ANDES-SN reunidos na Universidade Federal de Roraima
(UFRR). Pois, já na plenária de instalação, qual não foi o rebentar de
sentimentos dos que conheceram e dos que privaram da convivência do Professor
Márcio Antônio ao assistirem as homenagens a ele dirigidas, as quais diziam de
um líder, de um comandante, de um companheiro e de um amigo. Honras feitas
ainda sobre o efeito dos suaves aromas exalados no ritual realizado pela Pajé
Vanda Macuxi, que comandava os cânticos e a dança Parixara, expressando a vida
dos povos tradicionais de Roraima. Era, pois, um grito de alto lá! dirigido
contra o escárnio de um governo ilegítimo que anunciara, dias antes, o nome de
um general, de desditosa memória em favor da Ditadura Empresarial-Militar, para
presidir a Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Era também a reafirmação do
pertencimento dos trabalhadores e das trabalhadoras da educação superior, povos
originários, trabalhadores e trabalhadoras da cidade e do campo no necessário
confronto contra a PEC 215/2000, o Código de Mineração, o Código Florestal, o
Marco da Biodiversidade, o Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação –
grito que ecoaria nas deliberações sobre questões agrárias, urbanas, ambientais
e de C&T.
A política e a arte se condensaram na
verve do poeta Eleakim Rufino e na voz da cantora Euterpe que banharam de
singelezas as plenárias e armaram os espíritos para a luta numa conjuntura
marcada por severos retrocessos. Foi isso que disse o companheiro Paulo Rizzo
ao fazer seu balanço da gestão que se encerra. Ele invocou as batalhas travadas,
o aprendizado e o amadurecimento do Sindicato. Depois procedeu à posse da nova
presidente, a companheira Eblin Joseph Farage, para a gestão 2016-2018, o qual deu
posse aos demais oitenta e dois integrantes da diretoria e, em seu discurso,
identificou os elementos centrais da crise do capitalismo e as suas
reverberações na agenda regressiva em curso na sociedade brasileira e no campo
dos direitos sociais.
A nova diretoria assumiu com o
compromisso de defender os princípios do ANDES-SN e com a responsabilidade de
fortalecer a unidade da categoria pela intensificação do trabalho de base, no
interior do Sindicato, e com a classe trabalhadora combativa, envidando
esforços na construção de um campo de lutadores\as frente à conjuntura
regressiva. Nas palavras da presidente empossada, “que sejamos capazes de usar
esse momento para nos fortalecer, fazer da crise potência para a nossa luta,
para os nossos desafios internos e enquanto classe, o que pressupõe uma
organização e ampla com todas e todos aquelas e aqueles que estão nas ruas
contra a retirada de direitos”.
Na análise de conjuntura,
identificou-se que os intensos ataques à classe trabalhadora, materializados em
retirada de direitos e criminalização de movimentos sociais, refletem uma
profunda crise política, econômica e social no país, ou seja, reflexo da crise
estrutural do capitalismo. Em reação a essa conjuntura, a classe trabalhadora e
a juventude, no Brasil e no mundo, têm protagonizado lutas acirradas, sobretudo
em contextos de governos de conciliação de classe. No mundo e no Brasil, a
juventude e os trabalhadores e trabalhadoras têm protagonizado movimentos de
resistência e de enfrentamento à retirada de direitos sociais, mostrando que
novos ares sopram na luta de classes, evidenciando a necessidade de aglutinação
dos esforços para a reorganização da classe trabalhadora e para a instauração
de uma nova sociabilidade para além do capital.
No ANDES-SN, greves acirradas em onze
seções sindicais do setor das IEES-IMES, espalhadas em cinco estados, articuladas
com técnico-administrativos e discentes, são lutas contra o ajuste fiscal nos
Estados, por melhores condições de trabalho e contra o ataque aos direitos
conquistados. Essas greves mostram a força e a vitalidade do ANDES-SN no seio
da classe trabalhadora e na defesa de seu projeto de Universidade pública,
gratuita, socialmente referenciada, laica e de qualidade, além da luta contra
os ataques que buscam o desmantelamento do serviço público nos Estados. Reforçam
essa trincheira de luta as ocupações estudantis em algumas das Instituições
Federais de Ensino Superior e em várias escolas da educação básica.
A análise sobre a atualização da
conjuntura e da política sindical refletiu as diferentes perspectivas da
categoria em relação à conjuntura política do país. Após intenso debate das
diferentes compreensões políticas em torno da conjuntura, chegou-se a um
posicionamento contra o governo interino que chega ao poder por meio de uma
manobra parlamentar, jurídica e midiática.
Ao posicionar-se pelo Fora Temer! Contra a política de conciliação de
classes, o ajuste fiscal, a retirada de direitos dos trabalhadores e
trabalhadoras, os cortes nas políticas sociais e pela defesa da auditoria da
dívida pública e da Greve Geral, os delegados e as delegadas do 61º CONAD,
representantes de suas bases, construíram um direcionamento para o nosso
Sindicato frente ao desafio de construção da unidade na luta, no próximo
período.
O 61º CONAD, cumprindo o seu papel de
conselho fiscal, aprovou a prestação de contas do Exercício 2015 do ANDES-SN e
a previsão orçamentária para o Exercício de 2017. Discutiu e atualizou os
planos de lutas da educação, os direitos e a organização dos trabalhadores e
dos setores das Instituições Estaduais e Municipais de Ensino superior (IEES/IMES)
e das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). Na atualização do plano
de lutas dos setores, dentre as ações aprovadas que se relacionam com os dois
setores e o conjunto dos servidores públicos, destacam-se a continuidade da
luta contra a aplicação da Lei nº 13.243/2016 (MLCT&I), que estabelece o
Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação, o PLP 257/2016, a PEC 241/2016, prevendo
o congelamento do orçamento da União para as políticas sociais por mais de 20
anos, dentre outros graves ataques, e a contrarreforma da previdência, com a
construção de uma campanha nacional em defesa da previdência pública e contra a
retirada de direitos previdenciários. No setor das IFES, deliberou-se pela
intensificação das ações nos espaços de unidade dos servidores públicos
federais, levando o debate sobre a perspectiva de rearticulação da Coordenação
Nacional das Entidades de Servidores Federais (CNESF) como espaço organizativo
e político da luta dos servidores públicos federais. Também deliberou-se pela
participação nas ações da frente parlamentar mista em defesa da previdência social.
Como subsídio à construção da pauta do setor, realizar-se-á uma reunião
conjunta com os GTPE, GTcarreira e GTC&T.
O 61º CONAD foi realizado após o II
Encontro Nacional de Educação, momento fundamental de consolidação de
organização das lutas em defesa do projeto classista e democrático de Educação,
o qual indicou algumas ações para serem apreciadas pelas entidades que o
compõem. 1. Transformar o Comitê dos 10% do PIB para a educação pública já! em
coordenação nacional das entidades em defesa da educação pública; realizar o
debate sobre a construção de uma greve nacional da educação; criar e fortalecer
fóruns, comitês ou coordenações em defesa da educação pública nos estados; intensificar
e unificar a luta contra o projeto “escola sem partido”; e realizar no dia 11
de agosto o dia nacional de luta em defesa da educação pública. Todos esses
indicativos foram aprovados no 61º CONAD.
Em relação às questões agrárias,
urbanas e ambientais, o 61º CONAD deliberou pela intensificação da discussão da
política energética do país, incluindo o debate sobre o mineral NIOBIO; pela
produção de uma revista que aborde esses temas e a luta contra as PECs 53/2014
e 65/2012.
A fim de dar maior visibilidade ao
enfrentamento ao Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação, deliberou-se
por realizar um dia nacional de luta contra o referido Marco, bem como a sua
regulamentação e implementação nas IES públicas. Além disso, realizar-se-á
seminário nacional sobre ciência e tecnologia em novembro do ano em curso.
No contexto de alguns acontecimentos
que refletem uma brutal violência em relação à comunidade GLBTTI, às mulheres,
aos negros e negras, às comunidades indígenas, o 61º CONAD incluiu no
calendário de lutas do nosso sindicato os dias dedicados ao combate à
homofobia, à lesbofobia e à transfobia. Ficou patente a necessidade de se intensificar
os debates e as ações de enfrentamento contra todas as formas de opressão, seja
no âmbito interno de nossas instituições ou e em outras frentes de lutas. Uma
demonstração disso foi o lançamento da Revista Universidade e Sociedade, nº 58,
com o tema Mulheres em movimento nas
lutas sociais e sindicais e a Cartilha em defesa dos direitos das mulheres,
dos indígenas, das/os negras(os) e das(os) LGBT.
Em relação à política de seguridade,
saúde e assuntos de aposentadoria, o CONAD aprovou intensificar a luta com os
demais movimentos sociais pela defesa do SUS e contra o fim da universalização
do direito à saúde e pela ampliação do financiamento do sistema público de
saúde. Além disso, aprovou-se a publicação de cartilha que oriente a realização
de pesquisa sobre saúde e adoecimento docente.
A homologação da Seção Sindical dos Docentes
da Universidade Federal do Sul da Bahia (SINDIUFSB) e a aprovação dos novos
critérios de acesso ao Fundo Único do ANDES-SN demonstram o amadurecimento
político e organizativo de nosso Sindicato, que continuará com as ações da
Comissão da Verdade, recomposta no evento, e com o lançamento do Caderno Andes
nº 27, com os Relatos da Comissão da Verdade.
Com a calorosa recepção dos
companheiros e das companheiras da SESDUF-RR, o 61º CONAD foi um evento marcado
por um denso debate político que produziu uma atualização na agenda de lutas do
ANDES-SN, que nos arma para os duros enfrentamentos que teremos no semestre
vindouro. O 61º CONAD escreveu mais uma bela página na história do ANDES-SN,
revigorando nossa disposição para continuar representando e defendendo os
interesses dos docentes, sem jamais se furtar a contribuir com a luta daqueles
e daquelas que se mantêm firmes e determinados na construção de uma sociedade
sem exploração e opressão. Eis aí uma maneira de reafirmar o legado do nosso
inesquecível companheiro Márcio Antônio, que a partir deste CONAD dará nome à
sala de secretaria da sede do ANDES-SN. Márcio Antônio, presente!
Boa Vista, 3 de julho de 2016
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