Em
tempos de pandemia a SESUNIPAMPA tem buscado a cada semana trazer informações e
permitir o debate na categoria, na comunidade acadêmica e na sociedade sobre as
formas de enfrentamento e solidariedade e refletindo sobre as possibilidades de
voltas aulas e de trabalho remoto.
Confira
alguns problemas que a SESUNIPAMPA verifica no trabalho remoto como atividade
de ensino, ou seja ensino remoto, um arremedo precarizado de processo de ensino
aprendizado. Para contribuir com o debate, temos a entrevista com a Eblin
Farage, secretária geral do ANDES-SN.
1 – As falacias do ensino
remoto e a volta perversa
O
problema nãos seriam formas de ensino a distância como melhor ou mais eficiente
que as aulas presenciais neste momento, mas as aulas a distância como
alternativa a não realização de aulas e ai se perde uma reflexão estratégica e
anterior: Vale a pena voltar a qualquer custo? Será um esforço que resultará no
que? Logo a dupla dicotomia e que tem como núcleo formas de educação a
distância como alternativa as aulas presencias e simultaneamente as
possibilidade de volta as aulas de forma única e exclusiva invisibiliza o seu
próprio ponto de partida: a situação de excepcionalidade.
A
exceção que temos, onde todo o funcionamento cotidiano e rotineira foi
alterado: comercio, transporte, indústria, saúde, educação e o conjunta de
serviços públicos, lazer, diversão e toda a gama de coisas que fazíamos em
nosso dia adia não é algo provocado por nós e muito menos regrado por nós.
Trata-se de um vírus que já assola a humanidade a mais de três meses e que ,
enquanto escrevemos estas linhas, ele no Brasil ainda aumenta exponencialmente
com um conjunto diário que oscila entre 700 e 800 óbitos.
Portanto,
quando pensamos em voltar para qualquer atividade temos que primeiro lembrar
que o motivo que nos leva a pensar em qualquer volta ainda esta ativo, vivo e
nos atacando diariamente. O maior exemplo disso é a ciranda de vais e voltas
que vemos toda hora na posição dos governos: que trocam bandeiras, voltam de
forma acelerada, trocam bandeira novamente e as pessoas vão contraindo o vírus
e novamente trocam bandeiras... O sistema de saúde esta prestes a colapsar.
Esse
cenário é que contextualiza a discussão da volta as aulas, que no segundo
semestre de 2020 virou uma pressão total e brutal, pois estressa e
responsabiliza a comunidade acadêmica, por um estado de exceção não criado por
ele, servidor publico, discente, terceirizado e a comunidade em geral por uma volta afobada e como principal
responsável por um eventual perda do semestre e do ano.
E de
repente o ensino remoto aparece como um tabua de salvação, que traz de forma perversa (pois ilude e aponta para
caminhos de precarização e futura privatização do ensino público), quatro
falácias:
Falácias do ensino remoto como salvação
da educação
1ª falácia – O ensino remoto, em
qualquer de suas possibilidades (EaD, tele-aula e etc) não representa altos
riscos para a população
Perversidade:
Representa sim, pois a) as pessoas se encontram emocionalmente envolvidas com a
pandemia, b) as pessoas não tem plenas condições e sequer mínimas, em alguns
casos, de estudar e ter aula em casa e c) muitas pessoas vão ter que se
deslocar de suas residências.
2ª falácia- O ensino remoto é a solução
para não perdermos o semestre e o ano letivo
Perversidade: O
semestre, considerado enquanto tal (com o tempo e a carga prevista) já não
existe mais. Portanto querer em quatro meses realizar dois semestres que não
atenderão a todos é criar uma resposta provisória, fraca e equivocada. Quase
tudo terá que ser feito/refeito. Se não for estamos admitindo a exclusão real
de pessoas. Logo os anos letivos vão atrasar.
3ª falácia – o ensino remoto é uma
resposta a sociedade e mostra o empenho
docente em querer trabalhar
Perversidade:
O
problema é de qual a sociedade se fala? Pois a parte mais excluída e que nunca
teve acesso à educação publica, gratuita e de qualidade sabe das dificuldades e
busca colaborar e sabe que em alternativas à distância a exclusão combatida
volta. Por outro lado não há nenhuma universidade publica, nem mesmo a UNIPAMPA,
esta parada: webnários , orientações, lives, reuniões e etc que buscam motivar
e incluir o discente em tempos de pandemia. As universidades não pararam de
trabalhar.
4ª falácia – O ensino remoto é
provisório
Perversidade:
Será?
Não se sabe quando voltaremos, provavelmente somente em 2021 e em condições
gradativas de volta (distanciamento, limite de publico, seletividade em algumas
tarefas). Isso significa que a) vai ter trabalho acumulado, b) vamos levar
tempo para se adaptar novamente ao ritmo e um calendário sequencial. Alia-se a
isso a concepção privatista do atual governo e o ambiente propicio a formas que
usam tecnologia digital para que lucrem e ai se questiona; Provisório? Não pode
virar algo permanente? Quem pode garantir isso?
Mas
então o que fazer?
Se
todos queremos, e queremos voltar as aulas, e principalmente superar a pandemia
que não pode ser esquecida, pois esta em andamento e é a responsável por estarmos parados, é normal
estarmos ansiosos, preocupados e logo perguntarmos: mas o que fazer? Vamos
então ficar parados? Esperar o tempo passar?
Mas
então perguntamos: você docente, que já esta, no caso da UNIPAMPA a três meses
com suspensão de aulas, esta parado? Sabemos que não, que todxs se envolvem em
tarefas no mesmo ou talvez até em um ritmo maior em atividades que já
desenvolviam em sua rotina. Logo, manter e potencializar isso é importante,
devemos inclusive considerar isso como atividade passível para progressão e que
conforme sua natureza pode valer como atividade assincrônica.
Mas
nosso maior desafio é pensar o pós pandemia: a volta! Não pode ser algo como
agora, apressado, mas algo processual que imagine cenários e que desde já todos
e todas possam pensar esses cenários. Não podemos em março ou fevereiro iniciar
a reflexão, é agora e só isso já nos dá atividades suficientes e necessárias
que envolvam toda a comunidade acadêmica.
Confira
a entrevista com Eblin Farage, assistente social, professora da UFF e
secretária geral do ANDES-SN.
SESUNIPAMPA: O que
apreendemos com a pandemia no que diz respeito ao nosso trabalho docente e na
organização sindical?
Eblin: A
pandemia revelou que as Universidades, Institutos Federais e CEFET são
instituições públicas de ensino absolutamente comprometidas com o
desenvolvimento do país, com saúde e a pesquisa pública e com a construção de
alternativas que melhorem as condições de vida da classe trabalhadora. Mesmo
com aulas suspensas em quase todas as instituições de ensino, as atividades de
pesquisa, extensão, estudos e produções para o combate a COVID-19 continuam,
evidenciando que a educação se faz a partir do tripé ensino-pesquisa-extensão.
Nesse período se evidenciou a crise estrutural do capital e sua incapacidade de
defender a vida em detrimento dos lucros, assim como se explicitou o desprezo a
vida dos pobres, dos moradores de periferias, povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas,
negros e negras. Nesse contexto, ficou explicito que a tarefa de defender o
trabalho docente de qualidade, estruturado em uma educação dialógica, é tarefa
do corpo docente organizado coletivamente, o que coloca para a organização
sindical uma tarefa central no processo de disputa de projetos de educação e na
defesa da educação pública. Aprendemos que nossa organização sindical, baseada
na organização pela base, construiu princípios essências aos processos
democráticos, que nesse momento estão sendo desafiados a se repensar para se
adequar ao período de excepcionalidade que vivemos.
SESUNIPAMPA: Caso seja inevitável na instituição de ensino
ter que voltar as aulas remotas, por decisão do seu conselho superior ou mesmo
monocrática, como fazer pra que eles não se transforme em algo normal e
institucionalizado para sempre?
Eblin: Retomar
as aulas através do ensino remoto será uma das maiores perdas para o projeto de
educação que defendemos. Por agora, não identificamos condições de ensino
remoto que evitem a exclusão de parcelas significativas de nossos estudantes,
que não precarizem as condições de trabalho dos docentes e que não esvaziem o
sentido dialógico e coletivo da educação que defendemos. Assim, essencialmente,
é necessário defender que as instituições de ensino façam levantamentos sobre a
real situação de estudantes, professores e técnicos-administrativos, para
verificar a real condição de trabalho e estudo aos quais estarão submetidos.
Ficar atentos e lutar para impedir exclusão de discentes e o assédio moral e o
adoecimento docente do conjunto dos servidores. E rejeitar qualquer tentativa
de tornar permanente aquilo que deve ser absolutamente provisório. Será o fim
da Universidade Pública a normalização do ensino remoto absolutamente precarizado.
Significará a vitória do projeto anticência e privatista.
SESUNIPAMPA: Quais
os desafios para superarmos a pandemia, que hora vinga e se preparar pra tempos
pós pandêmicos?
Eblin: A saída para
enfrentar esse momento, em primeiro lugar, deve ser a solidariedade. Nesse
momento o essencial é salvar vidas! Só a classe trabalhadora, através da
organização coletiva, das suas legítimas instituições, autônomas, de luta e
democrática, é capaz de dizer e demonstrar, que a vida vale mais que os lucros.
Segundo nosso desafio é envidar esforços para vencer esse governo e a
proliferação do obscurantismo gerado pelo efeito Bolsonaro/Mourão na sociedade,
ou seja, combater o ódio e valorizar a luta pela emancipação humana. Na esteira
da solidariedade e da luta para derrubar a extrema direita do poder, nosso
terceiro desafio e avançar no processo de reorganização da classe trabalhadora,
construindo uma alternativa que de fato interesse aos trabalhadores e que não
se caracterize como mais uma ilusão. O momento pós pandemia não pode ser por
nós desejado como um retorno a antiga “normalidade”, já que as relações sociais
e o cotidiano instituído também não interessavam a classe trabalhadora. Dai
nosso desafio de construir uma outra normalidade, mais humana e que
desnaturalização a desigualdade, a violência e as imposições do capital. Quem
sabe não estamos tendo a oportunidade de repensar a desumanização ao qual fomos
absorvidos e construir uma nova sociabilidade.