sexta-feira, 19 de junho de 2020

E a volta as aulas? Sem duvida algo que todos e todas queremos! Mas como?


Confira nessa matéria da SESUNIPAMPA algumas opiniões sobre esse processo de retorno das aulas, e se ligue e participe desse importante debate! E também a entrevista com Guinter Tlaija Leipnitz diretor do ANDES-S.



O processo de volta as aulas na Unipampa: Necessidade x Tempo Necessário.
Desde o dia primeiro de junho temos ações por parte de nossa reitoria para a volta as aulas. Foi simultaneamente criado um grupo de trabalho e uma proposta para a discussão, mas parece que já esta em andamento, mesmo antes de ser aprovada a partir do ciclo de “Conscientização e Formação - Novos Tempos no Ensino Superior durante e pós-pandemia”. Este, já se encontra em sua terceira fase (das cinco previstas), sendo que a reunião do órgão máximo de deliberação o CONSUNI, acontecerá somente dia 22 de junho. A “proposta” já traz sugestões de volta às aulas, através de ensino remoto, cujos componentes ofertados devem ser definidos pelos diferentes cursos da instituição.
Neste contexto, se percebe três grandes problemas consolidados:
1.    Todos e todas queremos voltar, mas com condições seguras e não excludentes.
            Primeiro a impressão de quem não se quer voltar às aulas e que não se quer tentar construir alternativas de diminuir o prejuízo colocado pela pandemia. Ao contrario, desde março todos(as) os(as) colegas tem realizado uma gama enorme de atividades remotas buscando consolidar vínculos com os discentes, aumentar a autoestima e combater a COVID-19 (webnários, palestras, lives, projetos de pesquisa e extensão, encontros virtuais, esclarecimentos de dúvidas, sugestões de leituras e por ai vai).
Neste sentido, a preocupação e o contato com a comunidade acadêmica já são uma realidade e mesmo admitindo a não possibilidade de termos ensino presencial este ano, precisamos levar em conta os tempos de preparação para uma volta remota, algo diferente do que sempre fizemos e que compreende um processo especifico de construção que leve em conta o estado emocional dos envolvidos, a capacidade de operação e de participação nas atividades e principalmente que respeite a dinâmica de cada campus e sua reflexão na base acadêmica. Ou seja, precisa-se de mais TEMPO E REFLEXÃO: Julho nem pensar!
2.    Todos e todas queremos voltar, mas sem precarização da atividade docente.
Em tempos de pandemia, as atividades por plataformas e redes sociais se constituíram em uma solução primeira, lógica e naturalizada pelo uso cotidiano das tecnologias virtuais. Imediatamente na UNIPAMPA e no mundo, tivemos formas de atividades remotas voltada para as atividades meio e atividades de ensino não obrigatórias. De repente a proposta de volta em Julho, centra todo o processo no “ensino remoto, híbrido, tele- aulas”, enfim em várias terminologias que acabam se concentrando na realização da atividade docente de ensino aprendizado por plataformas digitais, onde inclusive poderá se  realizar dois semestres em um.
Imediatamente percebemos uma mistura entre ensino remoto, ensino a distância e iniciativas digitais que já nascem precarizadas, pois inicia sem criar, planejar e principalmente discutir as condições para isso. Assim em uma semana se quer formar os docentes, sem se preocupar em formar também os discentes no uso de plataformas digitais, se quer em um mês iniciar as aulas (considerando dia 20 de julho) sem garantir o pleno acesso, sem discutir estágios e outras dinâmicas didático-pedagógicas dos cursos. 
O principio de uma universidade publica são aulas de qualidade onde a formação humana crítica e reflexiva deve ser o seu centro. Logo todo o processo de ensino aprendizado deve respeitar tempos, procedimentos e espaços adequados de dialogo e construção do conhecimento, como pensado na concepção da própria universidade em seu Plano de Desenvolvimento Institucional. Em nome da pandemia não se pode justificar um processo aligeirado e que sacrifique como ensino remoto essa forma necessária de formação profissional e humana;
Pois por trás disso, dessa forma aligeirada de se voltar as aulas se traz uma concepção de ensino remoto que, considerando que o retorno as atividades presenciais é incerto, mas lento, que pode vir para ficar, ou se transforma na referencia didático da instituição. Ora algo que nasce precarizado, se precariza mais ainda, pois sem reflexão, preparação e operacionalização adequada.

3.    Todos e todas queremos voltar, mas com a inclusão de toda a comunidade acadêmica
Neste processo, de “proposição” de volta que, já esta acontecendo, temos uma série de questões não resolvidas e nem formalizadas que envolvem docentes, discentes e TAES: como garantir que não haja excesso de carga horaria, visto o contato digital ser mais fluido e transversal? Como garantir que quem não possa participar das atividades do ensino remoto não seja prejudicada nem fique em descompasso no calendário acadêmico e em sua formação? Como garantir processos de formação adequados considerando particularidades como estágios, componentes com uma carga prática e etc?
Assim, a volta necessita ser repensada levando em conta que os ritos, sensibilidades e dificuldades da comunidade acadêmica devem ser levados em conta. Temos na UNIPAMPA uma possibilidade de acesso universal ao ensino, que a pandemia está bloqueando, mas buscar resolver isso, não pode atacar essa condição de universalidade e deve dialogar com o profundo quadro de desigualdades social em que nossos discentes se encontram.
Portanto de um lado, se apressa a categoria docente, se atropela semestres, pois vai se gerar um descompasso entre os conteúdos oferecidos e não oferecidos e de outro lado se preconiza que os discentes tenham as condições ideais de acesso, que não se resume a rede, mas as condições emocionais e de infraestrutura em casa. Se confunde a necessidade de voltar com a injustiça de excluir nessa volta a todos e todas que não podem participar.

TODOS E TODAS QUEREMOS VOLTAR
... mas não confundindo ensino em tempos de exceção com educação pública, gratuita e de qualidade: pensando o futuro.
  Confira a entrevista com Guinter Tlaija Leipnitz, professor do Curso de História -Licenciatura do Campus Jaguarão. Atualmente, Guinter é Diretor do ANDES-SN.

SESUNIPAMPA: Quais os problemas do ensino remoto tal como proposto nesse contexto atual?

Guinter: “É importante ressaltar que o ANDES-SN tem acumulado nas últimas décadas uma longa discussão política e pedagógica sobre a educação pública no Brasil, incluindo o debate sobre Ensino à Distância. Há uma posição histórica do sindicato contra o uso da EaD na formação inicial e como forma substitutiva do ensino presencial. Porém, temos entendido que a política incentivada pelo MEC e que tem sido levada a cabo por parte de reitore(a)s não pode nem ser enquadrada como EaD, que é uma forma de ensino já regulamentada. Antes mesmo de discutirmos esses elementos, penso que há uma série de questões de ordem técnica e logística: considerando que a relação de ensino remoto entre estudantes e docentes é mediada pelo acesso à Internet, este acesso é precarizado, de modo geral entre estudantes da universidade pública – em sua maioria de baixa renda - e mesmo entre alguns setores da categoria docente; no mínimo, com significativo grau de instabilidade. Para destacar apenas algum dos fatores que levam a isso, destaco que alguns diagnósticos que têm sido realizado no âmbito das instituições, revelam que boa parte de discentes possuem acesso à Internet basicamente via celular, com pacotes de dados restritos ao uso de redes sociais, elemento que demonstra o tamanho dos empecilhos para.  Realizada sem a devida profundidade, com certo grau de “improviso” diante das pressões para retomar algum calendário letivo, mesmo que ainda estejamos longe de qualquer “normalidade” diante da pandemia da Covid-19, a implementação de atividades de ensino remoto, ao contrário do que tem sido afirmado por muitos gestores, pode justamente gerar maiores contribuir para fatores que levam à evasão estudantil e ao aumento de ansiedade para discentes, docentes e técnico(a)s.”

SESUNIPAMPA: Quais os problemas do ensino remoto na Unipampa?

Guinter: Na Unipampa, além de problemas comuns a outras realidades do país, há a questão da multicampia, que implica o espalhamento dos campi pelas cidades do interior, onde a conexão sofre ainda maior instabilidade comparada a centros maiores. A precariedade se manifesta também nas condições de estudo agravadas pela insuficiência da assistência estudantil (anterior ao contexto da pandemia), mas que se intensifica agora. Por exemplo, estudantes que dependem do funcionamento de restaurantes universitários estão sem essa opção devido ao fechamento dos mesmos durante a pandemia. Isso sem mencionar o agravamento de suas condições psicológicas, diante das incertezas e inseguranças do contexto. Além disso, minha avaliação é que a atual gestão de nossa universidade não está conduzindo o debate do retorno da melhor forma, uma vez que já pressupõe que iremos adotar atividades no bojo do ensino remoto; fomos apenas demandados a avaliar quais podem se encaixar nesse funcionamento. Ora, essa não é uma discussão que pode ser aligeirada, e por isso, demanda a possibilidade de um debate que passe necessariamente pelas instâncias regimentais, mas que ultrapasse seus limites, pois é o futuro da educação pública que está sendo aqui definido, mesmo que as soluções que têm sido propostas sejam apresentadas como “transitórias”.
SESUNIPAMPA: Como deveria ser a volta/preparação as aulas, considerando que ainda estamos em pleno desenvolvimento da pandemia?




Guinter: No âmbito do ANDES-SN, com repercussão no seio da categoria espalhada pelas universidades, o que temos defendido é que é importante sim abrirmos discussão sobre o retorno - para além do trabalho que nós docentes continuamos a exercer, de forma remota, com reuniões, projetos, estudos -, porém que considere possibilidades para além da adoção automática de formas de ensino remoto. Essa adoção é mesmo inevitável? Como podemos saber sem realizarmos uma discussão mais profunda – e sim, mais demorada – sobre alternativas de atividades dentro do tripé ensino-pesquisa-extensão? É possível atender ao(à)s discentes, no que tange a sua formação, pensando sobre outras soluções? São essas perguntas que devem estar no centro do debate.

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