segunda-feira, 27 de abril de 2020

A Unipampa em meio à política genocida de Bolsonaro e a orientação do MEC de retorno ás aulas.


A Sesunipampa conversou com a comunidade acadêmica sobre o retorno às aulas em meio à pandemia. Proposta por Jair Bolsonaro e Abraham Weintraub coloca em risco a vida de docentes, discentes e TAE’s.

A Universidade Federal do Pampa (Unipampa) suspendeu suas aulas por tempo indeterminado, tendo em vista as variações e instabilidade advindas da pandemia da COVID-19 e também pelo risco a saúde da comunidade acadêmica. A UNIPAMPA pretende seguir as normativas (decretos) do governo estadual, como estas foram revalidadas até o dia 16/05, essa é a data referência (a reitoria já prorrogou a normativa interna sobre isso). Se for confirmada, o calendário seria provavelmente retomada em torno de 01 de junho (segunda-feira). Atualmente, desde o dia 16 de março as atividades presenciais foram canceladas, com exceção das essenciais.
O governo federal além de se mostrar negligente com a população brasileira com ações irresponsáveis envolvendo o Ministério da Saúde e das declarações de Jair Bolsonaro fazendo pouco caso do novo coronavírus, segue também atacando as universidades federais. Através do MEC (Ministério da Educação), tem sugerido às universidades a adesão ao modo EAD durante a pandemia, e agora, exige que as universidades retornem ás aulas.



VOLTA ÁS AULAS E O RISCO A COMUNIDADE ACADÊMICA
      Tendo registrado até o dia de hoje (27) mais de 4.000 mortes em todo país pela COVID-19, o Brasil se encontra em um cenário grave. Mesmo com o sistema de saúde já entrando em colapso em alguns estados, os números com avanços alarmantes e pouca perspectiva de enfrentamento a pandemia, o governo de Bolsonaro ainda sugere que as universidades retornem às aulas presenciais.
     Sendo considerada um dos espaços mais propícios à contaminação, tendo em vista que as salas de aulas possuem geralmente como característica um grande número de alunos em um espaço compacto e de pouca ventilação. A política genocida de Bolsonaro vai além do descaso e da negligência com a saúde, contra o isolamento social, utiliza de estratégias para que a população retorne ao cotidiano enquanto reforça seu discurso de a pandemia não causa tanto impacto como propaga a grande mídia.  Inclinado a defender os interesses dos banqueiros e empresários, participa de manifestações que pedem o fim do isolamento e o retorno da abertura total do comércio e fronteiras.

A UNIPAMPA E O POSSÍVEL CENÁRIO DE VOLTA ÁS AULAS
    A comunidade acadêmica da Unipampa conversou com a Sesunipampa sobre o pensamento de volta às aulas, como proceder e quais alternativas estão sendo encontradas durante a quarentena.
       A discente do curso de História da Unipampa de Jaguarão, Andriele Silveira, relatou que felizmente conseguiu ir para a casa dos pais e nesse sentido se encontra em situação confortável, mas segue atenta e combativa nas questões estudantis, tendo em vista que para muitos outros estudantes a situação não está nada fácil:

Infelizmente a situação é caótica, os estudantes que ficaram nas cidades dos campus da Unipampa tem enfrentado o descaso da reitoria à um direito básico que é a alimentação e consequentemente, saúde física e mental. No dia 18 de março, a reitoria da Universidade Federal do Pampa encerrou as atividades tidas como “não essenciais” por conta da pandemia do coronavírus, porém não colocou a alimentação como uma questão essencial, encerrou as atividades do Restaurante Universitário sem dar nenhuma alternativa de alimentação para diversos estudantes que dependem unicamente do RU pra fazer suas refeições. O que foi disponibilizado até o momento foi uma bolsa de R$80,00 por mês para comer na semana, somado aos R$80,00 que já recebíamos pelo final de semana que o RU não abre, o que dá um valor de R$5,33 por dia para fazer as refeições. Diversas Universidades tem tomado medidas alternativas, como disponibilização de marmitas, cestas básicas e kits de alimentação, o que infelizmente passa longe da realidade que vivemos na Unipampa. Além das dificuldades de estar longe da família, sem apoio psicológico, os estudantes ainda se deparam com a angústia de muitas vezes não ter o que comer. Recebi relatos de estudantes da Moradia Estudantil João de Barro do campus Santana do Livramento, que sofrem com a falta de orientações de medidas de prevenção, produtos de higiene e material de proteção”

            Para a aluna, também é possível pensar alternativas de enfrentamento a pandemia. 




“Não é hora de deixarmos que o medo nos paralise. Sei que é difícil pra todo mundo, a situação é angustiante, mas devemos pensar principalmente nos mais atingidos: os de baixo, as periferias. Apesar da internet ser um espaço muitas vezes de propagação de fake news, também disponibiliza ferramentas importantes. Temos que nos utilizar dela tanto pra continuarmos organizados em nossos locais de atuação, somando mais gente na luta, quanto pra dar visibilidade para campanhas de solidariedade que estão rolando. Se não estão, é preciso criar essas ações! Não podemos esperar ações de um governo que não quer dialogar, enquanto a fome bate na porta. Em Jaguarão, onde eu estudo, o que tem salvado os estudantes é uma campanha de arrecadação de alimentos e higiene, muitas pessoas da comunidade tem se sensibilizado e ajudado, além de nos dar a possibilidade de aproximação com a comunidade que por vezes parece distante. É um momento em que temos tido a oportunidade de aproximar a universidade do povo, com pesquisas sendo voltadas pro combate ao coronavírus, fabricação de testes, fabricação de álcool gel e materiais de proteção”

          A discussão também foi feita pelos docentes da Unipampa. Para o professor Evandro Guindani, do campus São Borja, é preciso romper com a ideia de trabalho operário como trabalho dominante, tendo em vista que devemos considerar o trabalho intelectual. No meio docente, o computador e a internet pode ser um fator que transforme o lar, em local de trabalho 24 horas por dia.

Penso que há em nossa sociedade uma concepção sobre o trabalho ainda ligada ao século XIX, onde o operário precisava ir à fábrica para trabalhar. Sua máquina estava lá então não poderia trabalhar em casa. Essa realidade perpassa o imaginário social atual. Ficar em casa significa não trabalhar, dentro desse imaginário. Então precisamos romper com essa visão atrasada e saber que estar no local de trabalho nem sempre significa estar produzindo, trabalhando ou desenvolvendo alguma atividade. É muito comum você se deparar com pessoas que sentem a necessidade de estar no local, na empresa, na instituição, para que outros vejam que ela está "trabalhando". Por outro lado alguém que pode estar em casa pode estar produzindo, trabalhando muito mais. No nosso caso, o computador com acesso à internet é nossa grande ferramenta de trabalho. E temos acesso a ele 24h por dia, o que significa que estamos disponíveis para o trabalho todo esse tempo. Diante disso, neste período de isolamento social procuro desenvolver todas as atividades possíveis tais como preparação de aulas, coleta e análise de dados de pesquisa, troca de e-mail com alunos, produção de pareceres de artigos para revistas, leitura e aprofundamento de material bibliográfico para as aulas, produção de artigos juntamente com os alunos, participação em reuniões, palestras e eventos virtuais, seleção de novos filmes e documentários para as aulas. Percebo, portanto, que estou desenvolvendo muitas atividades e preciso tomar cuidado para preservar tempo para demais atividades que compõe nossa vida. Estamos num momento crítico e único na nossa história e isso gera ansiedade também, então estamos nos adaptando a uma nova realidade. Não estamos em casa numa condição normal.”

Como forma de enfrentamento a pandemia, o professor afirma que o posicionamento é importe:




“Penso que devemos ter claro que nosso papel de docente é se posicionar a favor da ética, de uma sociedade justa e democrática. Deve ser contrário aos ataques à democracia, à concentração de renda e a retirada de direitos dos trabalhadores.”

No que se refere a volta às aulas, a Sesunipampa defende que o calendário siga às orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde) e siga respeitando o isolamento social. Para o técnico administrativo Eduardo Chagas, Coordenador geral do SindiPampa, pensar a volta as aulas deve ficar para o segundo semestre do ano, e mesmo assim, ainda seria difícil prever uma data com exatidão.

O “governo” não tem pressionado apenas pela volta às aulas, mas sim, pressionado para que todos e todas voltemos à normalidade, como se uma pandemia que, em maior ou menos escala, atingiu praticamente todos os países do mundo, houvesse sido um mal entendido, uma chuva de verão, ou, nas palavras do presidente, “uma gripezinha”. Mais de 3000 brasileiros e brasileiras já perderam a vida, há mais de 40.000 casos e uma evidente subnotificação da doença, o que nos faz pensar que o cenário é pior do que o esse apontado pelos números, e ele já é assustador. Acreditamos que, neste momento, a principal demanda é exigir que o governo atenda aos milhares de trabalhadores e trabalhadoras do país que estão sem renda. O isolamento social passou a ser implementado em março, nós estamos próximos de maio e o governo sequer liberou na integralidade a primeira parcelo de um auxílio que só chegou a 600 reais por pressão do Congresso e da sociedade, pois a ideia do governo Bolsonaro era pagar 200,00, sim, 200 reais. Acreditamos que talvez seja possível retomar as atividades no segundo semestre, mas mesmo isso é difícil prever, já que o isolamento social, que evitou uma tragédia maior até aqui, tem sido abandonado por vários governos estaduais e municipais, que estão pressionados pela inércia do governo federal em atender aos trabalhadores, formais ou informais, ou mesmo disponibilizar, de fato, linhas de crédito às micro e pequenas empresas. Para esses segmentos o dinheiro vem à conta-gotas e com manifesta má vontade, mas para o sistema financeiro, no dia 23 de março, o Banco Central liberou 1,2 trilhões de reais. É um verdadeiro absurdo”

         Além das observações quanto as politicas do governo de enfrentamento a pandemia, o coordenador do SindiPampa também atentou para as diversas campanhas solidárias que estão auxiliando de alguma forma as demandas mais emergentes da população.


“Há várias iniciativas solidárias acontecendo em todas as cidades e é extremamente importante contribuir no que for possível. Se a pandemia voltou a tornar visível o abismo social do país, onde a mídia tenta esconder a informalidade sob o discurso do “empreendedorismo”, ela também mostrou a força da sociedade civil organizada. Até mesmo porque o governo federal faz chantagem com a fome das pessoas, ao demorar em liberar o auxílio e com isso tenta empurrar as pessoas de volta às ruas, ao trabalho e ao risco de contaminação. Neste momento, o principal é ficar em casa. Cuidar de si é, sim, cuidar dos outros. Filtrar as informações, consultar mais de um site ou telejornal para se informar, fugir das informações que chegam pelos grupos de whatsapp, desligar um pouco da tv e, principalmente, entender que é, sim, responsabilidade do governo federal atender aos trabalhadores e trabalhadoras neste momento. Não é o isolamento que vai causar desemprego, é a doença, a possibilidade de milhares perderem a vida. O governo precisa atender as pessoas, cuidar das pessoas, liberar recursos para que as empresas possam pagar sua folha salarial e complementar o salário de quem perdeu parte do salário. O Brasil é uma das maiores economias do mundo, nós não estamos falando de um país que não tenha recursos, mas, sim, não tem vontade em ajudar quem mais precisa.”

SOLIDARIEDADE COMO FERRAMENTA DE LUTA
        Se Bolsonaro faz pouco caso da vida humana e põem em vigor sua política genocida, precisamos de alternativas para enfrentar a pandemia. Com toda a problemática do auxílio emergencial que não contemplou toda a população necessitada e mesmo às beneficiadas encontram diversos empecilhos causados por falhas sistemáticas, e também pensando em demandas emergente como apresentada anteriormente por discentes, a Sesunipampa estará lançando nesta terça-feira 28 de abril, uma campanha de arrecadação de valores que serão revertidos em materiais de higiene pessoal e limpeza, como álcool gel, álcool, água sanitária e sabão. Anteriormente foram feitas doações em dinheiro para alguns campus da Unipampa, visando mediar a alimentação de alguns discentes.
     Porém, ainda é preciso muito mais. Ajude você também, e vamos juntos, com solidariedade, enfrentar as demandas da pandemia da COVID-19.



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