terça-feira, 25 de agosto de 2020

Volta às aulas na UNIPAMPA: ensino remoto foi aprovado no CONSUNI e traz incertezas para comunidade acadêmica

 

Tendo sido aprovado o ensino remoto no CONSUNI da UNIPAMPA, a comunidade acadêmica se prepara para a modalidade e pensa como será o retorno em meio á pandemia da COVID-19.

Um processo metodologicamente atropelado

   Após a comunidade acadêmica da UNIPAMPA ser pega de surpresa com a proposta atribulada de um calendário acadêmico voltado ao ensino remoto por parte da reitoria veiculado na primeira semana de junho , a seção sindical do ANDES-SN (SESUNIPAMPA) buscou aumentar a capacidade de diálogo em torno da proposta e diminuir os impactos da mesma, tendo em vista que algumas questão ainda se encontram em aberto e causam preocupação a categoria docente e também aos alunos. Foram realizadas plenárias, assembleias, matérias e distribuída três notas sobre o assunto junto à comunidade acadêmica.

  A proposta foi apresentada e já se encontrava em andamento, e uma das principais preocupações foi sua metodologia de construção. Sem oportunidade de discussão na base, a participação da comunidade acadêmica aconteceu nas reuniões dos conselhos de campi, porém com suas preocupações pouco ou quase nada incorporadas na proposta oficial. Sendo que o CONSUNI, instância máxima, foi discutir o tema somente em 09 de julho, um mês após a proposta já estar sendo fechada pelo grupo de trabalho criado para isso. A preocupação central era a volta as aulas e não as condições necessárias para uma volta segura (com o mínimo de exclusão e de precarização da atividade de ensino). Tanto que houveram 03 propostas de retorno, 20/07, 03/09 e 17/09 que aumentavam ansiedade e adoeciam a comunidade acadêmica.

    Mesmo que discutir um possível retorno fosse necessário, um processo democrático requer construção coletiva, consultas na base da universidade e somente após esses processos, a formulação de um calendário de retorno. Se tratando ainda do ensino remoto (modalidade que não contempla a universidade pública de qualidade que construímos no cotidiano dos espaços de construção do conhecimento), torna o processo ainda mais delicado e necessita maior sensibilidade ao analisar a realidade econômica dos alunos de todos os campus e cursos, de maneira distintas, tendo em vista que apresentam demandas variadas.

 SESUNIPAMPA dialogando com a base

1ª PLENARIA DOCENTE VIRTUAL: O debate a cerca do retorno das atividades acadêmicas ocorreu através de uma plataforma eletrônica, e contou com a média de 60 docentes, sendo eles dos campus de São Borja, Alegrete, Caçapava, São Gabriel, Jaguarão, Bagé, Santana do Livramento e Uruguaiana e também contou com a participação do advogado Guilherme Monteiro, membro da assessoria jurídica da SESUNIPAMPA. O encontro ocorreu no dia 08 de junho.

Confira os encaminhamentos da plenária:

1    Se potencialize o compromisso assumido dos presentes em pautar a discussão nas comissões de curso e demais instâncias do campus. Que se realize uma agenda propositiva de capilarização da discussão com base na reflexão dos princípios construídos acima e que preceda e estruture a reflexão deliberativa de nosso CONSUNI

Se elabore uma nota jurídica para subsidiar a base sindical sobre condições de salubridade dos docentes no momento de volta as aulas, na garantia do salário dos profissionais da universidade sem nenhum tipo de corte, em evitar a sobrecarga de trabalho para mais de 20hs, nos impactos da pandemia no orçamento da universidade e na validade da participação de sindicalizados e não sindicalizados nas assembleias docentes com capacidade deliberativa.

Repudiar qualquer tentativa de estratégias de individualização e responsabilização individual dos docentes pelo processo de retorno as aulas.

 1ª ASSEMBLEIA DOCENTE VIRTUAL: Posterior á apresentação da proposta, a SESUNIPAMPA chamou a base para discutir a mesma enquanto categoria docente através de assembleia, que ocorreu em 16 de julho. Foram em torno de 50 participantes, de oito campus da UNIPAMPA: São Borja - São Gabriel - Jaguarão - Uruguaiana - Dom Pedrito – Bagé, Itaqui e Caçapava do Sul, que em  três horas e meio de reunião refletiram, polemizaram, discutiram coletiva e democraticamente sobre a pauta da assembleia: 1) Conjuntura; 2) Enfrentamento ao COVID 19  e posição sobre o ensino remoto na UNIPAMPA; 3) Eleição de delgado e observadores para CONAD extraordinário e 4) Informes gerais.

 

Confira os encaminhamentos da assembleia:

1) Reafirmamos as posições já manifestadas nas notas 001/20, 002/20, 003/20 e a nota conjunta com o SINDPAMPA de que  a forma como a reitoria tem conduzido  o processo de volta as aulas por ensino remoto tem sido aceleradas, verticalizadas e acabam contribuindo para um aumento da ansiedade e adoecimento profissional e fragilizando as relações democráticas necessárias para esse necessário dialogo na comunidade acadêmica. É necessário ouvir e encaminhar as sugestões dos campi, levar em conta suas particularidades e as necessidades de uma formação adequada e construção de condições adequadas de ensino aprendizado para a categoria docente. O processo tem sido discutido pelo GT formado que não tem dialogado com os campi e de forma precária com o CONSUNI, onde a primeira reflexão foi somente realizada 46 dias após a criação do GT e configuração das propostas apresentadas. Afirmamos que o CONSUNI é a instancia máxima de nossa universidade, ali deve ser o espaço de deliberação final com o tempo necessário para isso. 

2)  Reafirmamos também o alerta da insuficiência de propostas para comunidade discente que garanta a universalidade do acesso nas atividades de ERE. Que busquem dar conta - para além das bolsas já oferecidas ou em processo de oferecimento- da não exclusão de nenhum discente. Precisamos compreender que com a pandemia a precarização da realidade de vários estudantes aumentou, ou seja, as condições de pobreza e de desigualdade social no país estão piores. A renda da população tem diminuído e neste quando temos também o impacto psicológico, a carga emocional de estar se vivenciando um processo semelhante a uma guerra civil, com vítimas diárias. Logo questões de acesso, questões que possam levar o discente a ficar para trás na integralização do semestre são questões estratégicas que senão resolvidas em um processo de oferta regular, como se pretende podem levar ao aumento da já existente evasão escolar.  

3) Que a proposta final de volta as aulas por ensino remoto sejam embasadas e elaboradas a partir de diagnósticos representativos e publicizados amplamente que demonstrem a realidade de acesso e os nós críticos a serem resolvidos. Urge novas pesquisas junto a comunidade discente, técnica e docente que atualize dados antigos e permitam entender o quadro que temos após quatro meses de pandemia. Esse esforço de pesquisa deve ser coordenado entre todo os campis a partir de um questionário comum também amplamente publicizado. Os resultados devem servir como base para a discussão e deliberação final. 

4) Que em qualquer proposta de utilização de tecnologias digitais a partir de diferentes plataformas seja garantido e assegurado a liberdade de cátedra: de ensinar e aprender com autonomia e tranquilidade. Este direito fundamental tem sido ameaçado constantemente nos tempos de controle ideológico que vivenciamos. Assim, da mesma forma como em sala de aula essa liberdade é o princípio do processo educativo, em condições remota, onde torna-se possível ataque de hackers, gravações indevidas e exposição de docentes, torna-se mais necessário ainda a sua garantia. 

5) Consolidando a afirmação da liberdade de cátedra, deve ser garantido nesse processo de implementação do ensino remoto em tempos pandêmicos a garantia e preservação do direito de imagem e de escolha pelo docente se este quer gravar sua aula ou não. Um direito já garantido na CF de 1988(artigo 5º, inciso X) que afirma ser este inviolável. Portanto, mesmo se tratando de ERE, tal direto tem que ser  regulado. Ou seja, deve ser garantido primeiramente o consentimento como condição da gravação. A atual proposta de diretrizes para a volta elaborada pelo GT não deixa isto nítido. Tal nitidez é fundamental para defesa do docente e de sua liberdade de ensinar.

6) A UNIPAMPA como uma universidade pública neste processo, colocado pela excepcionalidade do momento pandêmico, deve se comprometer com o desenvolvimento e aperfeiçoamento de plataformas publicas e com softwares livres para o desempenho das atividades pedagógicas. É fundamental nesse processo não nos precipitarmos e na ansiedade de querer voltar logo, desvalorizar a função pública da universidade e ao mesmo tempo valorizar o mercado digital e suas tecnologias já disponíveis que mesmo em um primeiro momento serem gratuitas, este fato não perdurará, poderemos ficar dependentes, além do que já sermos garotos propagandas da Google que lucra simbolicamente com isso e financeiramente também. 

7) Que a oferta na modalidade ensino remoto pautada pelo momento de pandemia, justamente por isso seja com componentes optativos (ensino) e que seja integrada com as atividades de extensão e pesquisa. Buscando assim, a realização de projetos integrados construídos no processo interativo entre professores e alunos. Dessa forma se minimiza os impactos de um semestre regular sobre os discentes e mantem-se o vinculo necessário a partir dos encontros virtuais já diminuindo a carga horaria final de integralização do curso. 

8) Que seja afirmado nesse processo provisório de volta as aulas o direito a progressão e promoção e que isso seja universal e amplamente publicizado. Pois embora ainda não se tenha desenvolvido o ERE, desde março os docentes se envolvem e desenvolvem atividades de trabalho remoto através de webnários, orientações, atividades de extensão e pesquisa e etc. Ou seja universidade e os docentes não pararam um instante sequer e logo isso tem que ser reconhecido para seu processo de progressão/promoção funcional. 

9) Que o fluxo de contato para dúvidas e sugestões para a Reitoria seja organizado a partir da atuação do GT que atualmente coordena a construção da proposta de ensino remoto. Permitindo mais interação e agilizando e democratizando o processo.

 O retorno das aulas e o ensino remoto

    Entendendo que o processo de ampliação da precarização da educação pública da um passo a frente com a aprovação do ensino remoto, pelos motivos citados acima e também pela precarização do processo de ensino-aprendizagem, limitado pelo acesso a educação via internet, se faz necessário não encerrar os debates a cerca do calendário mesmo com a aprovação do mesmo no CONSUNI, tendo em vista que é preciso ficar atento nas questões trabalhistas e de acesso, para evitar (dentro dos limites) a evasão em massa dos alunos da universidade.

     Neste sentido, no conselho Universitário (CONSUNI), houve movimentações importantes que buscaram reduzir os impactos negativos e reestabelecer o diálogo democrático dentro da universidade. Na reunião do dia 24 de agosto em reunião convocada para a aprovação da proposta, foi solicitado pelo professor Rubem Ávila Jr um pedido de vistas, apoiado pela artigo 34º do regimento geral do CONSUNI. O centro desta ação era o de destacar questões fundamentais que haviam sido ignoradas na proposta final: semestre de 15 x 13 semanas, critérios para o exercício da atividade docente com qualidade, discussão das diretrizes operacionais no conselho (para dar conta de determinadas ilegalidades) entre outras coisas.

     No dia 13 de agosto, em nova reunião do CONSUNI, se discutiu o parecer que levou a dois dias de reunião e oportunizou várias melhoras que buscaram diminuir o impacto da volta as aulas em tempos de pandemia (estado de exceção) pelo ensino remoto: semestres de 15 semanas (dando conta dos 15 encontros necessários conforme MEC), um intervalo de 40 dias entre os dois semestres, a definição de que o ensino remoto acontece somente em tempos de pandemia, a explicitação de que a qualidade do processo de ensino aprendizado está limitado a precariedade do contexto pandêmico, o aumento do prazo de dois  para quatro semestres para a quebra de pré requisitos e logo recuperação do conteúdo que ora fica pra trás.

 Confira o calendário aprovado:
1° semestre: 08/09/2020 a 18/12/2020
2° semestre: 01/02/2021 a 15/05/2021

 Breve balanço: a necessidade da resistência

   Sempre afirmamos, enquanto sindicato, que ninguém era contrário a volta as aulas. A questão era: como? E neste sentido, tivemos um processo de discussão que iniciou torto e foi minimamente consertado por dentro do CONSUNI que consagrou pequenos e importantes avanços. Mas vários problemas não foram resolvidos: o ensino remoto continua como possibilidade, nas diretrizes operacionais aprovadas, para o segundo semestre, a partir da modalidade hibrida, algo que reforça o ensino a distância mal formulado, e de uma forma ainda não discutida, ou seja, não sabemos o que será essa hibridez.  Dizíamos desde o inicio que o ensino remoto vinha para além dos tempos de exceção. Mas foram somente dois votos de diferença, isso demonstra que a universidade esta dividida e logo há espaço para a discussão e para a resistência.


     Embora houvessem uma serie de garantias para a recuperação dos semestres para quem não cursar, a questão da exclusão não foi resolvida, pois pouco se avançou em medidas efetivas, para além da bolsa internet. As questões de precarização da atividade de ensino, embora tenha se conquistado a não gravação das aulas como algo optativo, pouco se avançou nas condições de treinamento e capacitação. São lutas que vamos continuar travando na busca de uma universidade para todos e todas.

Confira algumas pequenas dicas para voltarmos as aulas
Orientações para um trabalho não precarizado e decente: 

1)       As aulas por ensino remoto é uma novidade para todos nós e algo por tempo determinado. Por isso é fundamental exercitarmos dialogo em sala de aula virtual, vamos apreender juntos e juntas e não deixar a precarização desta situação  nos dividir. Sem aumentar exclusões! 

2)      Vamos ter que utilizar plataformas e metodologias novas para nós, inclusive diferente de nossa formação didático-pedagógica, portanto, façamos em nosso limite, afinal, a qualidade de nossa atividade não se mede por uma tela de computador, mas pela nossa dedicação. Sem sentimentos de culpa!

3)      A situação de nossos encargos docentes, embora muito questionada, não foram ainda resolvidos, mesmo assim registre suas atividades, pois lutaremos para que seja respeitadas e computadas como de direito. Encargos são direitos, não abriremos mão!

4)      Percebemos que o trabalho remoto e tão ou mais intenso que o presencial, nesse sentido trabalhe em seu ritmo, não aceite ou caia no ritmo alucinante e sem horários da internet. Preserve sua saúde mental! Evite a fadiga e a extrapolação horária do atendimento docente.

5)      Só autorize a gravação das aulas se sentir a vontade. O seu direito de imagem, assim como a liberdade de cátedra são direitos inalienáveis de nossa profissão;

Qualquer duvida, qualquer problema, nos contate:  sesunipampa.andes@gmail.com

 

SESUNIPAMPA NA DEFESA DA ATIVIDADE DOCENTE NÃO PRECARIZADA!

 

Confira durante o decorrer desta semana: SESUNIPAMPA conversa com professores de diferentes campus da UNIPAMPA sobre a volta às aulas e o ensino remoto.

 

Junte-se a nós na construção da universidade que queremos.
Filie-se. 

Mais informações: sesunipampa.andes@gmail.com

 

 


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